sexta-feira, 30 de novembro de 2012

dia não sei quantos 148: contagem (de)crescente


Fechar a mala em silêncio, ou, três dias a fechar a mala em silêncio, subindo e descendo a ladeira, três dias ao nada, três dias ou quase, ao nada, que é tudo, é tudo!, torrada pão tormento chá, ladeira, senha sonho susto… ladeira, onde estão as respostas?... ladeira, tabuleiro, comida?, senha quarto, ladeira. Agora vamos fazer coisas. Depois: ladeira. E depois já será noite. Entretanto [risos], faço colagens mentais a dar para o torto, planto cenas imaginárias em vasos imaginários, e, às vezes, durmo como uma pedra, um ser inanimado na sua plenitude, ou isso. Olha, apetece-me é emborcar umas cervejas…

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

dia não sei quantos 147: caos calmo [ou, calmo o caralho!]


Estou a tentar submeter o pensamento indexando-o apenas a determinada acção, remetendo para estímulos previamente programados, ou previstos, e ainda agora queria escrever: debalde. Mas com estímulos não se brinca. Não paro: apreendo a imensidão efémera de cada momento (também pode ser segundo). 

[que dia é hoje afinal?]

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

dia não sei quantos 146: ninharias


["assim é na mala da nossa vida: metemos lá tudo, só para que não haja um espaço vazio". 
Escreveu Turguéniev.]

terça-feira, 27 de novembro de 2012

dia não sei quantos 145: o tempo das estátuas


"O homem como o vento procurou / um buraco num tronco para a noite. / Ouviu o mocho, o noitibó, o sapo. / Viu as estrelas a mudarem de lugar. / Pressentiu o saca-rabos, a raposa. / E descobriu, assustado: estou aqui". Isto escreveu-o Jorge Guimarães. 

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

dia não sei quantos 144: alerta-me isso


Nada mais estimulante do que os alertas matinais, alertas esses que superam em cor e brilho qualquer alerta da protecção civil e seus derivados, ou isso, este último pode ser laranja, pode ser amarelo, pode ser vermelho, já ninguém distingue a cena da outra cena, vivemos aos poucos a brincar aos alertas e completamente daltónicos funcionais relativamente a esses alertas (pó caralho com os redundâncias), já ninguém quer saber dos alertas que não servem para alertar, e um dias destes a coisa fica complicada e um tipo fica à mesa a acabar os finos ou as imperiais, conforme a situação geográfica, enquanto tudo se desmorona. Não foi o caso. Este alerta matinal, cuja cor não se conseguia definir a olho nu, acoplado a um telemóvel, despontou inexoravelmente o regaço de um braço e respectiva mão, a princípio terá sido apenas uma mão, depois assomou um corpo, ainda não eram a nove horas e já esse corpo desenjoava com o prazer único do paralelepípedo quando devidamente calcado pela roda de um automóvel de alta cilindrada, e ainda não seriam as nove e meia e já esse corpo galgava o monte a norte da sua casota rumo ao objectivo: acompanhar alguém a uma determinada unidade hospitalar. Mas primeiro impunha-se encontrar esse alguém, cá fora, entretanto o sol ora brincava aos alertas de cores garridas, ora aos cinzentos sombreados por nuvens de tipo Cumulos, ou isso, e não seriam mais de dez horas quando o objectivo número um foi atingido. Depois, já se sabe, nunca é fácil.

[mais tarde fui correr]

domingo, 25 de novembro de 2012

dia não sei quantos 143: horário normal de abertura


Entretanto, o carteiro terá tocado duas vezes, seguindo as deixas de James M. Cain, entretanto: ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz, entretanto, "há duas maneiras de chegar a casa; uma delas é não chegar a sair", foda-se lá aquela cena do Chesterton, do homem eterno, mas o melhor é não continuar a ler o livro, estas duas frases triunfam sobre qualquer desistência.

[Auster, the end, glass]

sábado, 24 de novembro de 2012

dia não sei quantos 142: aparente especialista em estranheza


Isso já vem de ontem, a cena do Menino, um conto do Vila-Matas nos Exploradores do Abismo, deu-me para reler aquilo, a antessala do vazio, mas também o mercadejar das angústias, ou isso, coisa com pano para mangas, capaz de nos por a andar horas a fio pela cidade, penso que no campo o efeito será o mesmo, estava a ruminar tudo bem ruminado, quando a manhã (isto já foi hoje) entrou pela janela, as frinchas de luz peneiradas pelos estores insinuavam gotículas de chuva, foda-se, pensei, esta merda está cheia de poesia, logo o pensei assim o disse em voz alta, esta merda está cheia de poesia, e ala que se faz tarde para o desenjoo. Entretanto, viajo por florestas Laurissilva, o que é uma redundância, a internet é assim, ruas com mar nas bordas, janelas que não servem (apenas) para o suicídio. Nunca se deve mercadejar com as angústias. 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

dia não sei quantos 141: o treina(r) [a] dor apenas não chega


Era uma vez um jogo de futebol entre uma equipa totalmente inexistente (não confundir com a inexistência do Cavaleiro Inexistente do Calvino), e uma equipa de relógios suíços de fancaria iguais àqueles que o Primo marroquino vende na praia de Buarcos em Agosto. A equipa de relógios suíços de fancaria iguais àqueles que o Primo marroquino vende na praia de Buarcos em Agosto, às vezes, transformava-se numa equipa inexistente, mas ainda assim não tão inexistente como a equipa totalmente inexistente, cuja inexistência congénita resulta numa atitude filosófica perante o jogo sem qualquer transigência.  Ganhou naturalmente a equipa de relógios suíços de fancaria iguais àqueles que o Primo marroquino vende na praia de Buarcos em Agosto, a qual às vezes também é uma equipa inexistente, por três bolas a zero, sendo que a equipa totalmente inexistente fez jus ao nome e as bolas atravessavam-na sem qualquer fricção. Seriam quase vinte horas da noite e fui tratar do porco grelhado com arroz de legumes, salada e um tinto manhoso a acompanhar, de existência comprovada.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

dia não sei quantos 140: sonhos


Nem sombra do sonho. E ao acordar, após uma luz suave entrar sorrateira no quarto, abri o livro e lá estava escrito que o “sonho ramificou-se noutro sonho antes de eu acordar”. Quem acordava era Borges em “1983”, e ali apenas estaria o seu fantasma, queria dizer-lhe isso mesmo, mas achei que não, ele provavelmente não sabia, e como ele próprio havia escrito, acho,  eu também não tive medo, senti apenas que era “impossível e talvez indelicado revelar-lhe que era um fantasma”, ou isso. Levantei-me a tempo de um chá com uma torrada e fui correr ao som de Death in Vegas. Foi isso. 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

dia não sei quantos 139: apresentação... presente!


Estava ainda com um pé dentro de casa e já me lembrava daquela cena dos planos quinquenais do país dos sovietes, almejando a nossa planície burocrática a esse olimpo intransponível, ainda assim cada dia vamos tendo coisa nova, chusmas burocráticas substituídas ou nomeadas a preceito por outras da mesma cepa, colheitas diferentes. Todavia, chegados, o ambiente é tranquilo, do mais informal que se possa imaginar, não poderá existir ambiente melhor, a conversa não flui, é altifalante atrás de megafone (peço por favor que passem os pleonasmos a afins) mistelados com telemóveis a tiracolo, vai daí, vem daqui, patatipatatá, tranquilo, pena a aquela cena dos lamps, não dá para sentar, é que trouxe um livro, sabe, ah, não quer saber, bom, já está, não custa nada, foda-se!, vou mas é ver aquela cena do Savage. E lá fui.

[e depois um projecto… risos maquiavélicos]

terça-feira, 20 de novembro de 2012

dia não sei quantos 138: aí vai ele num cinema perto de si


A hesitação precede a cobardia e encova a estaleca, pensava eu nisto, num vai-não-vai lá para fora, dar de frosques, e nada, a tal hesitação e o vento, vai virar para chuva - pensei, ao mesmo tempo que sentia aquilo que Gracq denomina de “vento da livre velocidade”, aquele que “estala nos ouvidos”, ou isso, tenho que voltar ao a costa das sirtes, devo ter pensado, mas não tenho a certeza. No minuto seguinte, bom talvez não no minuto seguinte, mas quase logo após estes inusitados acontecimentos, já estava eu a descer a ladeira em direcção ao nada, apetecia-me mesmo dizer isto, ao nada, casaco de fato de treino casual, pois é, calção a dar para o largo, sapatilha branca e verde, de traço espanhol, ou isso, musicol e tudo, Wim Mertens, um gajo começa a correr e fica para ali na tourtour, quem é que ouve Mertens em corrida?, passa para Spiritualized e tá o gajo numa trip de morfina, álcool, roupinol e por aí fora, não quer ouvir a canção da morte, esteve lá perto, ou isso, e um gajo a correr, a fugir daquilo, a fugir daqueloutro, e aí vai ele. E resulta. 

[Agora estou para aqui a pensar em estratégias de organização de tardes. Estou calmo]

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

dia não sei quantos 137 e tal: projecto projectado em actualização


Relatório intermédio: dois Vitae com carta de representação. Passeio. Lanche. Internet. Análise não exaustiva ao dia nacional sem restaurantes.

[agora vou ali ler qualquer coisa e já volto]

dia não sei quantos 137: manobra de correcção de trajectória


Relatório preliminar: fui correr.
(Entretanto almocei, para que conste)

[projectos em projecção]

domingo, 18 de novembro de 2012

dia não sei quantos 136 e tal: e a noite começou assim:

Por falar em redenção, também precisamos de cebolas...

[em breve este sítio terá imagens, mas ficará igualmente enfadonho]

dia não sei quantos 136: where is my mind?zzz

ZZZZZZZZZZzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzznáuseazzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzcházzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzcabeçafodidazzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzznáuseazzzzzzzzzzz

sábado, 17 de novembro de 2012

dia não sei quantos 135: a logística não é um destino

Estou atento. Manhã isenta de qualquer probabilidade de have some fun, devidamente alcatroada de pensamentos caóticos e fugazes, com uma passagem verdadeiramente apoteótica num superhipermercado, onde as pessoas aproveitam para jornadear, como numa cena de espaço público - o outro até nos disse que não ia ao centro comercial porque não estava apropriadamente vestido, ou isso, e entretanto não foi possível resolver a questão principal do orçamento das lunetes, volte depois, estou aqui a substituir não sei quem, volte mais tarde a dra.zeca está ocupada, ou isso, como?, voltar mais tarde?, deves. Entretanto o estudo aprofundado do inglês lá foi avançando, e é verdade!, o tio está de volta, já me disseram, em experiências, pois é, e a padaria afinal tem a sua rua, pequenos nadas. Estou atento.   

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

dia não sei quantos 134: depois da queda

Sete horas de sono quase oito depois, um homem sai da cama e escreve umas cenas, toma umas notas, dir-se-ia, está com ideias, após as diligências ruma à casa de banho e volta para a cama, está febril, não para de pensar coisas ruminadas, assomam, voltam a descer, um bandulho cheio de imagens e pensamentos ecoam por aí. Volta a adormecer. Dorme uma, duas horas mais, mal dormidas, polvilhadas de sonhos, pesadelos, uma piscina por fim, acorda encostado na margem de uma piscina, ele apenas quer ajudar, diz uma voz feminina, ele dir-se-ia apenas assustado junto à extremidade, olhando para ambos os lados, percebe que acordou. Não se recorda de quase nada enquanto escreve essas linhas que iniciam assim: sete horas de sono quase oito depois…
Entretanto bebeu chá com torradas, é fácil de o provar.  

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

dia não sei quantos 133: entardecer


Uma manhã a acompanhar familiares a um hospital será suficiente para percebermos que, de uma forma ou de outra, a morte ronda e a dor é certa.  

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

dia não sei quantos 132: como já é tarde

Um destes dias ouvi dizer que um diário é o oposto dos dias com resignação, ou resignados, já não sei. Se calhar não percebi. Um diário é uma espécie de casa de bonecas (serve para este efeito) com(o) fachada, uma simulação demasiado próxima da vida, quem sabe uma forma de a tornear ou de a deslindar, e também aí guardamos, num palimpsesto escrevinhado, os nossos bonecos objectos, as nossas meditações, quase tudo o que é preciso no invólucro suspenso dos dias. Um diário como invólucro suspenso dos dias. Isto não quer dizer nada, como é evidente, mas não me lembro de nada melhor. Esgotei os bonecos, parti a louça. Uma das entradas dos diários de Kafka: "9 de Março (1923): Utilizar o ginete do agressor para a sua própria cavalaria. Única possibilidade. Mas quantas forças e destreza tal não exige? E como já é tarde!"

[fui acompanhante de uma ida à mercearia e ainda providenciei o regresso da tal assistência técnica por mecanismo de garantia]

terça-feira, 13 de novembro de 2012

dia não sei quantos 131 e tal: "ávido leitor de jornais, custou-lhe renunciar a esses museus de minúcias efémeras"


Entretanto, após um almoço cena gourmet a dar para o sofisticadote, não se escusa uma sopa e uma sandes planeada ao pormenor – entre o mediterrâneo e o atlântico, temos dietas saudáveis até dar com um pau – e de dois dedos de leitura, fui andar pelas ruas ao entardecer, comprovando-se a existência física de muitos seres humanos propícios ao contacto, nem que seja automóvel, mas dá sempre para perceber que o melhor de todos os mundos não está apenas dentro das nossas cabeças, ou isso. Também respondi a um anúncio mas não queria estragar a surpresa. Agora vou ali cozinhar uma cena sofisticada para o jantar.

dia não sei quantos 131: Arredondo teria uma cara quase anónima, não fora resgatarem-na os olhos


Foi acordar e ler: no primeiro pátio havia uma cisterna com um sapo no fundo; nunca lhe ocorreu pensar que o tempo do sapo, que confina com a eternidade, era o que procurava. O livro achava-se em cima da mesa-de-cabeceira, e havia sido escrito por Borges em 1975, ou isso. Bebi um chá e depois fui correr (ou fazer de conta que corria). 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

dia não sei quantos 130: serviços mínimos?


Um, dois três, quatro e-mails com Vitae incorporado, um deles com carta de apresentação motivacional e tudo, mais uma resposta directamente através de um site e tal, muito obrigado, irá receber no seu e-mail um comprovativo, fico a aguardar, já está. Na realidade e em verdade vos digo, sigo todos e vários trâmites, desde o telefonema balofo para meter a colherada algures, ao telefonema maquiavélico de subúrbio para dar a entender não sei o quê e saber coisas não se sabe muito bem sobre o quê, também ando pelas ruas – esta é uma sugestão centro de qualquer coisa emprego, contada algures, contada ninguém acredita –, ando pelas ruas, juro, porque parece que nas ruas se encontram pessoas, a ver vamos, e depois com essas pessoas podem acontecer conversas e sabermos coisas, e assim ando pelas ruas ao amanhecer nem tanto, mas ao entardecer gosto, mas já gostava dantes, sempre que podia andava pelas ruas, ao amanhecer nem tanto, só de directa. No tempo em que era um desempregado em part-time (também já fui muito empregado em full-time) e fazia biscatada técnica para além de outras coisas, como fazer o trabalho que outros apresentavam como seu, recordo-me que era, de certa forma, mais bem-aventurado, não sei porquê, e mais inocente, ou isso. Agora serviços mínimos, o caralho!, eu desunho-me, ou nem tanto, serviços mínimos, o caralho.  

domingo, 11 de novembro de 2012

dia não sei quantos 129 e tal: arrumar carros em viatura própria

Entretendo-me com valentia, lá enviei mais um Vitae sem carta de representação que se faz tarde. É preciso aceder ao mais fino quilate do pensamento, para suportar com galhardia intrépida todas as demandas preferenciais ou indispensáveis, correndo o risco de exclusão, por não cumprir todos os requisitos, ou satisfazer requisitos a mais, tendo em conta a experiência definida com a minúcia do relojoeiro. Viatura própria. E para arrumador, como será?

dia não sei quantos 129: uma conspiração de estúpidos


"O diário tinha toda a espécie de possibilidades. Podia ser um documento contemporâneo, vital e verdadeiro dos problemas de um jovem."  Escreveu isto o suicida John Kennedy Toole.

[bom dia, ou isso]

sábado, 10 de novembro de 2012

dia não sei quantos 128: insuficiência de nostalgia

ZZzzzzZZZzzzzzacordarzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzadormecerzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzacordarzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzchápretozzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

dia não sei quantos 127: O sportinguismo como uma das belas-artes (ou a Galápagos sportinguista?)


Um dia qualquer Camus disse, mas também terá escrito (isto em francês, claro), que um tipo se habitua a tudo até a viver dentro de um tronco de árvore, numa cena existencialista que ainda faz correr o pano dessas mangas, ou por aí. Prova disso os servos da gleba enclausurados durante séculos num sistema que um dia até lhes terá parecido de sempre e absolutamente compreensível, ou as castas indianas, essa democracia grande, mas que não é grande coisa, com os seus intocáveis sempre abaixo, ou os corpos que singelamente ajudaram a adubar a grande muralha da china, nada como a carne para assegurar o mister dos canhões e dos impérios, e prova disso ainda, os intrépidos adeptos sportinguistas, ano após ano esfregando as mãos, inexpugnáveis na sua dor transmissível apenas a alguns eleitos, o que não quer dizer que não possa estar a exagerar nessa estranha forma de vida que entretanto se entranha. Tudo se transforma, e nesse desconhecido jogo de onze contra dez, o final é um prolongamento da tese Linekerniana de que no final (por favor deixem passar os pleonasmos, isto já é suficientemente penoso para mim) ganha sempre a equipa que joga contra o Sporting, ou quando muito empata vá, ao mesmo tempo que os tipos assinalados como jogadores demandam salário ao final do mês por fazerem de conta que são jogadores, numa interpretação, os ingleses chamar-lhe-iam de fenómeno impersonating, a todos os títulos genial, no sentido em que quem está a assistir acredita piamente que aqueles seres humanos são jogadores de futebol, porque se assemelham em tudo a jogadores de futebol, apenas não jogam nada, absolutamente nada, nem exibem qualquer tendência que nos permita pensar de outra forma. Temo que pela primeira vez na história da humanidade, o homem, segundo o qual Camus disse se acomodar a viver inclusive dentro de um tronco de árvore, não consiga, os sportinguistas não consigam, se adaptar a este estado final das coisas. Deve ser a evolução ou o caralho.  

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

dia não sei quantos 126: as cenas da percepção

Adorei, levantar da cama a correr, olha ali, olha lá o desenjoo a pé e tudo, volta isso, já estás lá fora, tudo na mesma, a pé que já tosses, siga, um café com leite, não é pingado, é café mesmo com leite mesmo, abres a carta, um ratão parido de um monte próximo, que merda de noite ainda por cima, siga que se faz tarde, carimbar a cena, alombar com a chuva, risinhos, passar na padaria, uf, chuva a dar com um pau, casa, ou isso, já cá faltavas. Entretanto, em busca de alívio voltei às pregas das minhas calças, parafraseando o Huxley, acho eu, as cenas da percepção são sempre fodidas.   

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

dia não sei quantos 125: temos que respeitar todas as vocações

Um desenjoo tardio e um telefonema reclamam parte da manhã. Dois ou três pensamentos, repetidos de todos dias, afloraram sem deixar rasto. Tentei, em vão, recordar o sonho, ou o pesadelo, desta noite. Entretanto fui correr.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

dia não sei quantos 124: treina (dor) sem resultados

e depois o seu contrário: não li, não fui correr, não pensei na vida, não me levantei sequer da cama, não tomei duche, não estou a escrever não estou a escrever neste momento.

[sim, acordei e bebi um chá verde]

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

dia não sei quantos 123: portem-se bem

Não sei bem porquê, talvez por uma questão de tempo, talvez uma questão de gosto, acompanho-me individualmente todos os dias, reconheço os meus conteúdos programáticos, particularmente, reduzo os custos do meu tempo, esvazio-me com todos os passos necessários, parte desse percurso é aprendizagem e fica connosco, guardado e deformado integralmente. São estas palavras vazias que desaguam nos dias aconchegadas pelo desamparo, esses desafios culminam quando "he had, of course, long ago stopped thinking of himself as real", deu-me para ler, dizia eu lá atrás, para ler Paul Auster, coisa pindérica, ainda por cima Paul Auster no original, City of Glass, uma questão de tempo, claro, e de treino, o Vila-Matas sugeriu-o algures, parece que são amigos, é só fazer as contas. É o contexto socioeconómico, é preciso dar resposta, seguir assim individualmente, fazer a ponte a articulação com outro lado, é isso que se vai ouvindo. Agora vou ali minimizar os efeitos. 

domingo, 4 de novembro de 2012

dia não sei quantos 122: nada, salvo o erro


Afinal estava sol: e o dia principiou tardiamente, horizontalmente emparelhado a um jornal e a dois ou três pensamentos, tudo culminado numa observação funesta e sem rasgo do mundo lá fora, parece, que nos rodeia. Acho que foi isso. Depois, o desenjoo a caminho do chá e da torrada, onde é que eu já vi isto?, devo ter ruminado, enquanto ligava a aparelhagem num gesto certamente autómato, de passagem para outros, ligar o gás, ver do pão, olha está ali, manteiga, aquela cena do frigorífico representar trinta por cento dos gastos em energia por mês, contas feitas por um tipo através de um programa que criou, as coisas que estes tipos cogitam, a televisão a entrevistar o tipo, milhares de tipos e tipas de boca aberta em casa, aah, pensava nisto quando na rádio passou uma cena dos, juro, Jethro Tull, mil anos naquele momento, dir-se-ia, mil anos para mais. Depois semi-limpeza da casota, uma barreira de luz a desencaminhar-me para o espaço comercial, uma lista no bolso, não, uma listazinha na cabeça, um pé lá e outro cá, duche, bandulho cheio, uf, que horas são? Afinal estava sol.   

sábado, 3 de novembro de 2012

dia não sei quantos 121: irresponsável manager

ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzleiturazzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzsopa+sandeszzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

[ontem, é verdade, mais um e-mail com CV, ou isso]

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

dia não sei quantos 120: les jeux sont faits

O plano - enredo imagético: eu diria que sim, quer dizer, acho que sim, antes de mais a cena do triângulo está lançada, vértices delineados, e por aí fora, dormi pouco a pensar nisso, e depois a beleza do triângulo, o triângulo em si mesmo, equilátero ainda para mais, a perfeição geométrica, ou isso. Acrescente-se o simbolismo do triângulo, fecundidade, enlace fêmea, patati patatá, tudo adiado para segunda, é claro, bom de ver, ou não fosse hoje sexta, depois é o fim-de-semana, ontem feriado. Está a correr bem.  Está a correr bem.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

dia não sei quantos 119: todos os monstros

Quando acordei, segundo creio, já tinha o plano gizado, gosto da palavra gizar, uma palavra que até já assoma (assoma? - olha outra) em algumas letras de músicas, palavra, isto para termos a ideia do nível intelectual do roque e da pop, gajo e gaja, é bom de ver, mas entretanto, o tal matinal plano, um verdadeiro triângulo equilátero, assenta numa primeira conversa telefónica do início da semana, desencadeando um, digamos assim,  processo que até já contou com desenvolvimentos de pouca monta, reconheça-se. Brevemente conheceremos todos os seus vértices, ou não, isto tendo em conta a tal “região fronteiriça do cérebro, onde se criam todos os monstros”, recorrendo a G.K. Chesterton, que era um tipo até católico, e parece que essa região, inclusivamente, se desloca de forma visível, basta estar atento aos sinais, atendendo mais uma vez em G.K. Chesterton.

[agora acho que vou ali ver um filme]