sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

A amígdala é crucial para o medo, disse ele

É incrível como a vida é prosaica, não num sentido, digamos assim, despoético, não, será mais num sentido (deixem passar) da banalidade do real, o que em si mesmo funciona como uma pós-verdade (isto para mostrar alguma actualidade num recinto onde a trivialidade reina), isto é, um caldinho de merdas tão grande que o termo pós-modernismo já não conseguia abarcar, e olhem que o caralho do pós-modernismo era um bidão espacial do tamanho daquelas cenas que o Soviéticos colocaram à deriva no espaço que é de todos, ainda assim o pós-merdinismo, perdão, o pós-merdinismo da pós-verdade, fica muito aquém, vão-me desculpar, daquela sua prima jeitosa, a inverdade,  isto para não ir muito longe. A vida é de uma prosaicidade (existe, existe) tal, que nos convence da sua beleza (que ninguém repara), e quase nos convence (se estivermos realmente despertos) que todos os dias se aprende alguma coisa, como eu bem o senti hoje, enquanto colocava as camisas na máquina de lavar juntamente com o polar preto, umas meias, dois pares de cuecas e outras cenas indecifráveis, tudo em modo lavagem rápida, para depois sentir uma alegria indescritível (meia hora depois para ser mais concreto) ao observar as camisas impecavelmente lavadas e quase passadas a ferro (a qualidade do material das ditas ajuda –  bem hajam fardas belas), sem precisar de nada mais que não o sol a versejar lá em cima. Depois fui engraxar umas botas CAT, já com o fito de colocar os lençóis polares numa experiência alquímica com a máquina de lavar. Tenho uma vida muito interessante, para não dizer prosaica. Vou agora ouvir isto e esperar o picheleiro para mudar o autoclismo.  

domingo, 12 de fevereiro de 2017

O cérebro, a amígdala, e o amante dela

Ontem comecei por escrever assim: sem tentar afugentar o lirismo fácil das emoções, estando estas a reboque, ou não, de condicionalismos mais ou menos exteriores, afirmo que nem sempre é fácil encontrar livros, ou mesmo obras de cariz ponderadamente literário/cientifico, sem que demasiadas insinuações técnicas nos levem a desbravar caminho através de outros mecanismos, desaguando, não raro, em apeadeiros de verdadeira fancaria editorial, como facilmente se observará em qualquer escaparate das nossas (assim ainda hoje denominadas) livrarias. O caso de Daniel Goleman, não sendo único, condiciona a nossa (modesta) atenção por alguns momentos, desde que isso não interfira com os resumos dos jogos da premier league. Isto foi ontem. Hoje acrescentaria o Oliver Sacks, ambos injustamente colados ao plinto efémero que enxameia as nossas (ainda assim denominadas) livrarias. Comum a estes dois, o estudo do cérebro e uma mão amiga que os fez desaguar na casota. Mas não posso deixar de sorrir imaginando algumas unidades anatómicas humanas, naquele momento inicial de desfolhamento, ao lerem: o funcionamento da amígdala e as suas interacções com o neocórtex estão no cerne da inteligência emocional, ou na arquitectura do cérebro, a amígdala funciona assim como uma empresa de segurança cujos funcionários estão sempre prontos a chamar de urgência os bombeiros, como, por exemplo, escreveu Goleman no seu livro  “inteligência emocional”. Mas tudo isto foi antes ou quase ao mesmo tempo da leitura de uma entrevista de António lobo Antunes a um semanário, leitura essa que teve como consequência quase imediata a ingestão de um copo de água e duas saídas desvairadas à rua. António Lobo Antunes seria um escritor extremamente interessante, para não dizer genial, se não escrevesse, ou se não tivesse escrito os seus últimos (assim denominados) vinte livros, António Lobo Antunes, seria um grande escritor de livros se, e só se, se ficasse pelas entrevistas, por algumas crónicas em jornais regionais, compartilhando o seu cérebro, amígdala e neócortex com a gente, em suma, António Lobo Antunes seria um grande genial escritor, se nos permitisse imaginar algumas das suas obras a partir das suas entrevistas, sem nunca as ter escrito. Isto para o bem da humanidade, permitindo, ao mesmo tempo, um Vila-Matas de volta às lides com um livro sobre escritos apócrifos, imaginados por cérebros caseiros a partir de entrevistas falseadas. Agora vou limpar a casota.