quinta-feira, 29 de maio de 2014

dia não sei quantos quinta (re)começar com: programação própria

Olá quinta. A quinta-feira é, recorrendo ao pensamento dos Jafumega,  uma passagem, uma ponte -  não estamos aqui a divagar sobre vaus – que momentaneamente nos enlaça no sentido ilusório da existência, culminando numa fuga para a frente (a sexta, onde está?), embatendo (vou tentar encontrar uma palavra mais explosiva daqui a bocado) finalmente no fim-de-semana. Dito assim, remete-nos para um momento em que o pensamento se enjaula no pequeno zoo (assim do tamanho do da Maia) da hermenêutica, fundamentando qualquer redundância vindoura. Apesar do zzzz, trabalhar assim é só não ser visto.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

dia não sei quantos quarta (re)começar de: vai tudo dar aos spas

Um tipo cão  fica sempre naquela às quartas. As quartas são sempre um plural de quarta que joga ao meio campo da semana. Toda a gente sabe da importância generalista do meio campo das quartas, embora prefira jogar ao ataque ao estilo pontapé para a frente à (antiga) inglesa, ou isso. Às quartas (esta em particular) é importante encontrar a chave, mais importante é dar com o nariz na porta e (re)começar tudo mais tarde: o emailzinho, o de mansinho, o até ver. Trabalhar assim é nem ser visto (variação).

terça-feira, 27 de maio de 2014

dia não sei quantos terça (re)começar a: estar dentro da tua cabeça

Confere: a manhã de terça é uma manhã de segunda menos ressacada. Tem dias. Mesmo no plural as terças precisam de um adaptador para as legitimar. Se tiver dúvidas diga, cara terça. Às vezes faltam peças, mesmo com um emailzinho, mesmo de mansinho, as terças redundam na miséria que adjectiva (outra vez?) as manhãs. Depois o corpo cão senta-se, bordas inusitadas declamam carnes (isto assim até soa bem), não é bonito, não seria bonito, mas atendendo à margem de erro causada pelas roupagens, pêlos e afinidades electivas, não tarda a coisa espraia-se até à tarde. Sem resultados. Trabalhar assim é só não ser visto. 

segunda-feira, 26 de maio de 2014

dia não sei quantos segunda recomeçar e: ao cuidado de

Ora essa, com licença. Assim poderia começar o dia, acrescentando-se o poderei enviar um emailzinho se estivermos a norte do rio Douro, ou o poderei esvair-me de mansinho, daqui para o outro lado, isto se estivéssemos dentro da minha cabeça em simultâneo com uma manhã de segunda- feira em hora de ponta. Não (isto se estivermos a norte do rio douro), isto é, não existe (se estivermos entremeados a norte do mondego e a sul do douro) medida que possa mensurar a possibilidade de uma estratégia, devidamente assumida, que se coadune com a infelicidade pastosa da adjectivação matinal associada a um trabalho que é um neologismo para se e tal. Trabalhar assim é só não ser visto. Quer dizer, ou isso.

domingo, 25 de maio de 2014

dia não sei quantos domingo por assim dizer: já está aí no chão à força toda


 – Diz…
 – Nada… estou a falar sozinha. Aprendi contigo.

in "Memórias de um tenente da força aérea" (autor anónimo)

Não sei como fui parar à ribanceira reflexiva, embora a momentos a reflexão seja aparte (deixem passar) integrante (deixem passar) do núcleo duro do meu cérebro. A propósito, começo a achar (e não é de hoje caralho) que se calhar o Montero é um mcguffin. Segundo Vilamatinhas, para percebermos o que é um mcguffin temos que recorrer à cena do comboio:
«Pode dizer-me o que é esse pacote que está no porta-malas por cima da sua cabeça?», pergunta um passageiro. E o outro responde: «Ah, isso é um mcguffin». O primeiro quer então saber o que é um mcguffin, e o outro explica: Um mcguffin é um aparelho para caçar leões na Alemanha». «Mas na Alemanha não há leões», diz o primeiro. «Então isso aí não é um macguffin», diz o outro. Há para aí mcguffins a dar com um pau, um mcguffin pode ser algo que parece extremamente importante, mas que com o decorrer da situação acaba por ser irrelevante, cumprindo, no entanto, a função de nos deixar pregados ao ecrã. Mistura de engodo com lebre, daquelas tipo Guilherme Alves, o mcguffin recorda-nos sobretudo um encolher de ombros que nos faz olhar para o lado na vida, enquanto a vida passa (deixem passar), e, sobretudo, um mcguffin faz-nos lembrar uma qualquer comida americana servida ao pequeno-almoço, que é o prelúdio do dia e das nossas dores. Este desvio revela-se por vezes fatal como o destino. Um dia destes voltaremos ao Montero. 


domingo, 18 de maio de 2014

dia não sei quantos seja domingo e tal: a explicação

Escreve Manguel que entre os povos mais estranhos referidos por Plínio encontram-se os Cinocéfalos, ou Homens-Cão, com cabeças como as dos cães e corpos cobertos de peles de animais selvagens. «Ladram em vez de falarem e vivem do que caçam, actividade para a qual usam as unhas».  Ora, Manguel acrescenta (e isto é muito importante senhores e senhoras) que na tradição judaico-cristã, os Homens-Cão pertencem às raças excluídas não só do Éden como da terra «civilizada» restaurada após o dilúvio. Posto isto, irei verificar os níveis de incivilização e atestar a limpeza da casota nos anais respectivos. Mais tarde voltarei com a certeza que existirá algures um lugar para a ternura, um lugar onde esta se possa sentar confortavelmente. 

quinta-feira, 1 de maio de 2014

dia não sei quantos quinta feriado: com a sensação de estar polindo as minhas unhas, acho

Ainda és daqui? Ainda sou daqui. Um tipo Cão tem medo. Seja cão se não tem medo (deixem passar). Na rua desapareceram árvores. Onde mijar? Desapareceram árvores, caralho, as nossas árvores. Envelheceram unidades anatómicas que conhecíamos de sempre, tipos fortes, tipas fortes, referências na frente de ataque. Conversas novas trazem nuvens com palavras como próstata, rins, achaques úricos, ácidos rebeldes, peles curtidas servindo de estandartes. Aos poucos um tipo cão decide a equipa final da estante: Vilamatinhas, Fante, Borges, Melville, um bocado de Bukowski e de Vian, uma posta de Nicha. Sebald, sempre. Ali, claro, Chatwin, acolá a Viagem ao Fim da Noite. Hrabal… fazes falta. Um lugar vago para Savage. Stendhal a dar com os cortinados. Um pouco de filosofia, alguma história. Lainez, a nossa fada. Manguel a dar para o torto. Camus, obviamente, estrangeiro. Cossery para o chatear. Rimbaud às cavalitas de Flaubert. Pessoa e Belo. Cartago infinita. Celtas. Toca a esvaziar e dar de novo. Chesterton: um manual de construção de barcos. Poe, Franz alguma coisa para sairmos disto.  Lá fora ninguém escuta as lamúrias da estante. Tudo se desmorona, à espera no centeio.