segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

dia não sei quantos ao acaso segunda: cenas para fazer

Fui e vim. Duas vezes. Entretanto fodi um joelho. Acho. Durante a noite regurgitei a loucura sob a forma do coronol Kurtz. Verifiquei as torneiras. O gás está fechado? Quando o ataque à má fila começou já eu havia dado para esse peditório, fingindo mais ou menos que fingia (deixem passar) uma estranha letargia, em tudo semelhante à utilizada pelo Jude Law quando fingia que representava um sniper na batalha de Estalinegrado, banhando-se na lama, entre corpos, o cabrão. Pela manhã, sobre os destroços, as ratazanas saudavam o Firmin, e ainda por cima o gozavam, ninguém te pega, rato de biblioteca, e outras merdas assim, deixei-as andar à volta, como quem não quer a coisa, que horas são?, terei perguntado, ou isso.


sábado, 27 de dezembro de 2014

dia não sei quantos para mim não é sábado: a tendência é justamente essa

Fiquei. A imagem, entretanto, terá desempenhado o papel para o qual havia sido paga. E foi ficando. Ficaram igualmente duas marcas mundiais de espera a ver se te avinhas. Depois começou o momento do não, momento esse que pode ter a duração de três dias ou o de uma rosa a florir no deserto: não a comprar o jornal, não a ver livros, não à vã tentativa de marcar algo com hora marcada, não ao encaixotamento em vida numa atmosfera eivada de entretenimento, não ao seu simulacro, não às refeições a tempo e horas, não ao pensamento greco judaico cristão televisivo, não ao envolvimento de tropas pára-quedistas na reserva nativa para onde enviaram o Sporting, não ao emparcelamento de grandes áreas do cérebro, não à libertação dos movimentos de libertação que nos querem libertar, não àquela cena das baleias que nos ofusca a visão do vizinho do lado que fala alto como o caralho.Agora sim, vou.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

sábado, 20 de dezembro de 2014

dia não sei quantos zzázzazzoozz: agora vou beber uma cerveja, ok?

Fui e vim ou vim e fui do sítio. Outra vez. O debalde cheio tornou-se uma questão filosófica. Ou o seu simulacro. Durante a noite apareceu o Rambo com o John a tiracolo. Uma cena inacreditável. Tentei dormir muito e devagar. A páginas tantas o andar do lado ganhou vida. Outra vez. Entretanto, aquela cena portátil que aos poucos substituiu o pombo-correio tocou duas vezes. Como o carteiro. Lá em cima, no alto do guarda-vestidos um avião rubricava as palavras folga não pode coincidir com sábado. Uiiiiiiii, pensei logo no aviador do Bolaño, um grande cabrão fixe. Acabei mal, a papar uma bola de berlim com um galão directo em forma de meia de leite. Quanto custa esta merda?

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

dia não sei quantos sexta quarta: continuação do anterior

Fui e vim lá do sítio. Tudo na mesma. Pequei num debalde e atestei até cima. Entretanto anoiteceu, pelo menos foi o que disseram no bunker dos fundos. Antes de amanhecer e durante parte da manhã fiz o que podia para dormir. Depois levantei-me e construí castelinhos no ar. Deitei-me outra vez e tacteei o chá enquanto bebericava o ecrã. Dos castelinhos saia um fiozinho de fumo que entrevi negro. Pensei numa proposta indecente enquanto me matava mais um bocadinho às postas (deixem passar). Quando soar o gongo de partida para o caralho, lá estarei.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

dia não sei quantos é quarta mas podia bem ser terça ou quinta: dá igual

Aquilo tocou. Levantei-me, fiz o chá, deitei-me. Tacteei o ecrã. Levantei-me, duchei em pensamento. O que faz falta? Bananas, croissants em saco, maçãs. Que mais faz falta? Bolachas, douradinhos, outras merdas portáteis. Um pé lá e outro cá. Duchar. Aquecer a sopa fazer uma sandes, comer, beber café. Desesperar. Sair a correr, não tarda, para ir para o caralho. 

domingo, 14 de dezembro de 2014

dia domingo dizem quantos: disposições inatas, ou isso

Ora, dez, onze, doze, treze, catorze, mais houvesse e não se perdia nada ou quase tudo. Depois as siglas, fazer noites, manhãs, zonas intermédias que vão desaguar perto de qualquer coisa, a marmita o dirá, quer dizer, diria, se pudesse, ao gosto do freguês os dias no microondas, revistos e actualizados, o sistema límbico a dar para o torto, todos os sistemas (deixem passar) contrastam com a marcação somática do degelo ao lusco-fusco, num último e insano acto involuntário. Por norma o comportamento social desagua, finalmente, nas proximidades do estado geral frequentemente associado e (re)conhecido como loucura, essa resposta anti moderna que nos aproxima das árvores, ou talvez dos arbustos. Assim será. 

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

dia não sei quantos terça à terra: vertigem mal calibrada

Embora não fazendo parte da lista de convocados para a festa de anos do dr. Soares, decidi avançar para a preparação de umas alheiras de caça de Mirandela no forno. Só depois notei que era segunda-feira. Nada disto teria qualquer importância se o sr. Damásio não tivesse escrito um livro abonando o erro de Descartes, e com isso brindasse o público presente em território nacional com expressões como homeostasia sociocultural, expressões que ninguém percebe enquanto faz tchim com o copo, ou mesmo quando aquiesce com a cabeça, isto em movimentos pendulares para a frente e/ou para trás. O ponto fulcral da questão reside na ausência desta para férias em parte incerta, longe do marasmo homeostásico e mesmo cultural que sufoca nestes incandescentes dois graus centígrados de mínima que se sentem cá para cima, o que faz com que um tipo cão pense nas merdas para aconchegar o cérebro de calores infindos e alegretes. A pouca leitura dos últimos tempos associada à ausência formatada por lesões de qualquer espécie de corrida (o facto de andar sempre à pata nem sempre conta), anunciam uma transumância de valores culturais que que nem sempre se manifestam numa oportuna cadência migratória, embora se saiba que as grandes migrações se fizeram à pata e sem grandes corridas. Vai daí, fiz um pacto com a prostituição para semear a desordem nas famílias. O conde de Lautréamont continua vivo, caralho!  


quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

dia não sei quantos à quarta: demasiado disperso

Por causa das coisas, olha por causa das coisas penduro as dores na corda da roupa juntamente com os livros, os cigarros de enrolar e duas termotebe imaginárias, que mistela!, e depois fico a olhar, meço bem medidos os pensamentos que medeiam o ar encavalitado no espaço que vai de mim até à corda, passam-se assim alguns segundos que parecem segundos, depois minutos que parecem minutos, depois mais minutos que parecem minutos. O corpo dá de si, deve ser um vírus, cada qual com os seus, catarrada…tosse…reticências à Céline…febre?...apanhar ar…não apanhar frio…como é possível não conjugar o ar com o frio?, partindo o ar às postas?, escolhendo o centro comercial para desovar os pensamentos em lume brando, no quentinho peidorrento?... mesmo com reticências à Céline a empresa não é fácil .  A páginas tantas uma curta passeata alargou-me as fronteiras do mundo e, por momentos, senti, como Rimbaud, que já não seria capaz de solicitar o conforto de uma bastonada.