terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

dia não sei quantos 229: como uma manopla ao vento?


O observador sempre quis uns binóculos, uns lunetes daqueles mesmo a sério, daqueles que ver muito ao longe, muito ao longe, torna as coisas pequeninas dentro de um frasquinho sempre à mão, depois o observador ficaria oculto atrás de algumas rochas cujos lacraus seriam os cortinados de sua casa, não sabemos se se trata de um deserto, não sabemos se aquele austríaco dos detectives selvagens, Heimito Künst, estaria por perto, Heimito teve febre, bem o sabemos, Heimito não conseguia aguentar, mas aguentou, adormecendo, os sonhos de Heimito não o largavam a noite inteira, Heimito achava que os sonhos não têm dedos, têm punhos, e por isso deveriam ser lacraus. Heimito sabia tudo mas não sabia nada. E nisso estava como o nosso observador que analisava o exterior sob uma penumbra filtrada de lacraus e depois, durante horas, perscrutava o horizonte, tomava notas, adormecia, coçava os bolsos das calças e, sem se dar conta, chegava sempre ao local de onde havia saído no início do sonho. Por fim acordava. O observador sabia tudo mas não sabia nada. 

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