sábado, 12 de janeiro de 2013

dia não sei quantos 191: a mão fez esse ofício


Caro diário, acordei e logo aquela zoada, a cama colada aos olhos, seriam dez horas, o corpo nem queria acreditar, tão cedo? – escutei, mais uma das vozes do quarto escuro, com a janela aberta não melhorou, a voz outra vez, tão cedo? –  à falta de melhor optei primeiro por folhear o Público de ontem encontrado no meio da salsada do quarto, e mais tarde, num livro li isto: novamente lhe disse que estimaria muito estar perto dela, mas em minha opinião, os mortos ficam bem onde caem, diário de 12 Janeiro de 1888, de Machado de Assis, melhor, de Aires, o memorial do dito, mas essa merda é ficção – rezingou a voz detrás da cómoda, queria-lhe dizer que me estava nas tintas, que a 12 de Janeiro de 2013, um diário começava assim, caro diário, acordei e logo aquela zoada, mas a voz já estava longe ou eu longe da voz. Acho.

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