quinta-feira, 27 de setembro de 2012

dia não sei quantos 84: não entres tão depressa nessa cena escura


Um destes dias estava eu a ouvir um programa na televisão, a ouvir, sem ver os gajos, assim uma espécie de rádio, quando um dos tipos (era um tipo pela voz) falava de lirismo e de atitudes poéticas, referindo-se a coisas materiais, tipo política ou tinta esmalte, pelo tom de voz era tanto especialista numa coisa como noutra, e parece que também podemos acrescentar a isso economia, nada mais fácil, já que nestes tempos toda a gente percebe alguma coisa de economia, e todos os gajos que vão à televisão debitar barbaridades avulsas são economistas ou para lá caminham a passos (sem ironia ministerial) largos, para além de que são quase sempre os mesmos tipos ou tipas, não sei se já repararam. Essa merda de utilizar a poesia nesses termos, ou quaisquer outros, tendo em conta o nível de substrato lírico geral, pode, e certamente que é isso que acontece, causar muita obtusidade nos assuntos, sejam eles quais forem. Basta ler as Farpas do Eça e do Ramalho, mais meia dúzia de romances portugueses (nem é preciso consultar o Pulido whisky Valente ou o Rui Ramos pulido) para perceber que a evolução lírica manifestamente não existiu, ou é a mesma do século XIX, pelo menos, sendo (quase) certo que a poesia não tem nada a ver com essas merdas. De qualquer modo, preocupam-me cenas concretas, como isto. Ou como isto. Nisto estou que se foda. 

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