Um destes dias estava eu a ouvir um programa na televisão, a ouvir, sem
ver os gajos, assim uma espécie de rádio, quando um dos tipos (era um tipo pela
voz) falava de lirismo e de atitudes poéticas,
referindo-se a coisas materiais, tipo política ou tinta esmalte, pelo tom de
voz era tanto especialista numa coisa como noutra, e parece que também podemos
acrescentar a isso economia, nada mais fácil, já que nestes tempos toda a gente
percebe alguma coisa de economia, e todos os gajos que vão à televisão debitar
barbaridades avulsas são economistas ou para lá caminham a passos (sem ironia
ministerial) largos, para além de que são quase sempre os mesmos tipos ou
tipas, não sei se já repararam. Essa merda de utilizar a poesia nesses termos, ou quaisquer outros, tendo em conta o nível
de substrato lírico geral, pode, e certamente que é isso que acontece, causar
muita obtusidade nos assuntos, sejam eles quais forem. Basta ler as Farpas do
Eça e do Ramalho, mais meia dúzia de romances portugueses (nem é preciso
consultar o Pulido whisky Valente ou o Rui Ramos pulido) para perceber que a
evolução lírica manifestamente não
existiu, ou é a mesma do século XIX, pelo menos, sendo (quase) certo que a poesia
não tem nada a ver com essas merdas. De qualquer modo, preocupam-me cenas
concretas, como isto. Ou como isto. Nisto estou que se foda.
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
dia não sei quantos 84: não entres tão depressa nessa cena escura
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