sexta-feira, 21 de setembro de 2012

dia não sei quantos 78: balada de um desempregado cansado


 Um dia escreveu assim o António Ramos Rosa:
«A noite trocou-me os sonhos e as mãos/ dispersou-me os amigos/ tenho o coração confundido e a rua é estreita/ estreita em cada passo/ as casas engolem-nos/ sumimo-nos / estou num quarto só num quarto só / com os sonhos trocados/ com toda a vida às avessas a arder num quarto só/ Sou um funcionário apagado/ um funcionário triste/ a minha alma não acompanha a minha mão/ Débito e Crédito Débito e Crédito/ a minha alma não dança com os números/ tento escondê-la envergonhado/ o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente/ e debitou-me na minha conta de empregado/ Sou um funcionário cansado dum dia exemplar/ Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?/ Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço/ Soletro velhas palavras generosas/ Flor rapariga amigo menino / irmão beijo namorada/mãe estrela música/ São as palavras cruzadas do meu sonho/ palavras soterradas na prisão da minha vida/ isto todas as noites do mundo numa só noite comprida/ num quarto só.» Poema de um funcionário cansado.

É do caralho este poema, chegado ao osso, é do caralho, bem chegado ao osso e não parece, eu até era para copiar apenas metade, e fazer uma jogatana de palavras com desempregado e funcionário, mas não deu, não dá, está-se mesmo a ver que não deu e que não dá. 

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