quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

dia não sei quantos 175: sua estética de simulação


Por exemplo, a cena destes dias, às vezes penso nisso com uma certeza carnívora, os exteriores e mesmo os interiores fazem lembrar cenários, não aqueles cenários realistas e pomposos, ou supostamente realistas mas igualmente pomposos, nem sequer aqueles espaços reais que simulam outros espaços reais como cenário de fundo, a cena dos western spaghetti na Andaluzia, ou isso, não, estes cenários recordam-me o Dogville ou o Manderlay do Trier, filmed in a studio with a minimal set, tudo tão óbvio que nos transporta para a narrativa, lá para dentro, mesmo lá para dentro, e a páginas tantas aquilo é mesmo real, mais real que a própria vida, aquilo ali não é teatro, mas algo com que nem o Baudrillard contava: a simulação de uma simulação. Este contrário é o quê?, o que vemos, vemos pelo olho da câmara, a câmara ali faz toda a diferença, mas depois esquecemo-la e o que resta são resíduos, contornos, espaços minúsculos misturados com pessoas, e essas pessoas são também décor, décor de si próprias ou se quisermos das próprias personagens. E entretanto começa a fazer sentido para quem entra por esses olhos dentro (por favor não liguem aos pleonasmos), e é assim que eu vejo estes dias, por uma espécie de câmara, os meu olhos, estou fora e ao mesmo tempo estou dentro, é como se fosse um sonho, tão obvio que parece um sonho mal desenhado, e um tipo está ali a dormir e percebe que está a sonhar, com a diferença que não estou a sonhar, mas lá que parece um desenho distorcido, parece. Não sei se me faço entender?
Já volto.

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