quinta-feira, 9 de agosto de 2012

dia não sei quantos 35: parábola e fragmento


Um tipo acorda e já está a ouvir coisas sobre indicadores económicos e índices galopantes de qualquer coisa, como se isso fizesse parte das nossas necessidades mais imediatas, já para não falar no invólucro de normalidade onde nos são apresentadas, avulso ou por grosso, como outra merda qualquer. E eu que tinha umas listas para organizar, coisas para o dia, coisas mais simbólicas, e depois uma lista de livros e discos para ouvir, para comprar a coisa terá que ser revestida e colorida com empurrões e dinâmicas de rotação e translação. Tipos morreram na fogueira por pensamentos e livros bem mais inócuos, emociono-me por momentos, é sempre assim com tipos que morreram na fogueira por lerem ou escreverem merdas, e ainda hoje há tipos a morrerem em fogueiras reais e alegóricas, tipos e tipas perseguidos por dá cá aquela palha, gente com medo, ou borrada de medo, gente corajosa de medo, parece mesmo que o Kafka tinha razão, deixa ver se percebo: “Só existe um destino, nenhum caminho. Aquilo a que chamamos caminho é hesitação”. Entretanto, fui correr. 

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