sexta-feira, 11 de março de 2016

Uma sombra olhava a outra

hoje dormi umas nove horas, quase prego a fundo, quando acordei fiquei na penumbra a sentir os membros dormentes, adormecidos, estava ali diante de mim como uma pedra diante de outra pedra, claramente uma era mais dura, ainda assim talhada numa forma indefinida, embora eu conseguisse perceber que o escultor se estava a marimbar para o efeito. Nada disto se entrevia facilmente, porque filtrado por uma luz minúscula, que se resumia a um esplendor indecente rosnado por debaixo da porta, parecia mesmo rosnado, um feixe de luz miserável que se divertia em diatribes no quarto. Além. Também fazia escuro dentro de mim, mas esse escuro dentro de mim parecia estrangeiro, tisnado pela luz, formando uma camisola de equipa adversária, as listas não eram horizontais, nem verticais, mas eram certamente listas, juro, a cada momento uma tenaz poderia assomar com a sua voz a indicar o caminho dos cereais, do duche, cereais?, pensei, enquanto bebia água (isto às escuras) de uma garrafa localizada estrategicamente na mesa de cabeceira. Foi então que gritei. A voz devolveu-me uma certa calma e a janela finalmente abriu-se: estava sol. Isto não quer dizer nada, pensei...

Sem comentários:

Enviar um comentário