terça-feira, 22 de março de 2016

Fica-te tão bem esse Artaud

Não sei porquê, se calhar até sei, mas não me apetece dizer, volto sempre às maravilhosas primeiras páginas do “Heliogabalo ou o anarquista coroado”, desse génio merecidamente e estoicamente incompreendido, que dava pelo nome de Antonin Artaud, um tipo que já carreguei bastas vezes às costas, eu bêbado, ele morto bem morto a rir-se de mim como um perdido, e já sabemos pelas palavras sempre avassaladoras de Bataille que o riso é mais divino, é mesmo mais indecifrável do que as lágrimas. Estava eu nisso, quer dizer, tinha umas merdas importantes para fazer e arranjei logo maneira de não o fazer, como?,  voltando às primeiras páginas do “Heliogabalo ou o anarquista coroado”, desse génio merecidamente  e estoicamente incompreendido, que dava pelo nome de Antonin Artaud, resisti à magnífica primeira página do capítulo “o berço de esperma” e segui para a segunda página do mesmo capítulo onde ansiosamente li: mas há que ver como esse culto, extinto e reduzido às ossadas de gestos a que Bassianos se entregava, ressuscita, desde o aparecimento de heliogabalo menino nos degraus do templo de Emesa, e retoma, sob as práticas e os paramentos, a sua energia de ouro concentrado, de luz retumbante e cercada, e volta a ser prodigiosamente activo. Com isto desaguei aqui, ganhando tempo ao fazer em nome do não fazer. 

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