Não sei porquê, se calhar até sei, mas não me apetece dizer,
volto sempre às maravilhosas primeiras páginas do “Heliogabalo ou o anarquista
coroado”, desse génio merecidamente e estoicamente incompreendido, que dava
pelo nome de Antonin Artaud, um tipo que já carreguei bastas vezes às costas,
eu bêbado, ele morto bem morto a rir-se de mim como um perdido, e já sabemos pelas palavras
sempre avassaladoras de Bataille que o riso
é mais divino, é mesmo mais indecifrável do que as lágrimas. Estava eu
nisso, quer dizer, tinha umas merdas importantes para fazer e arranjei logo
maneira de não o fazer, como?, voltando
às primeiras páginas do “Heliogabalo ou o anarquista coroado”, desse génio merecidamente
e estoicamente incompreendido, que dava
pelo nome de Antonin Artaud, resisti à magnífica primeira página do capítulo “o
berço de esperma” e segui para a segunda página do mesmo capítulo onde ansiosamente
li: mas há que ver como esse culto,
extinto e reduzido às ossadas de gestos a que Bassianos se entregava, ressuscita,
desde o aparecimento de heliogabalo menino nos degraus do templo de Emesa, e
retoma, sob as práticas e os paramentos, a sua energia de ouro concentrado, de
luz retumbante e cercada, e volta a ser prodigiosamente activo. Com isto desaguei aqui, ganhando tempo ao fazer em nome
do não fazer.
terça-feira, 22 de março de 2016
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