Às vezes, não sei bem porquê, tudo isto me mete nojo, o que
é tudo isto?, sei lá, em primeiro lugar sou eu, tenho uma posição privilegiada
para me ver, pelo menos era o que pensava, na verdade não vejo um caralho à
minha frente de mim (deixem passar), e relativamente às outras frentes vejo,
distingo, rumino, martirizo-me com merdas que não interessam a ninguém, não aprendo nada, não aprendi nada, penso,
mas até esse pensar é pesado, balofo, entregue a uma voragem que culmina sempre
no caralho do eu, eu, eu, mim, mim, eu, ou isso, é como se transportasse o meu
cadáver às costas (como num poema, não me lembro qual), ou se calhar
transportasse a ideia de um cadáver que transportava às costas, não podemos
esquecer que o cool arrumou as suas roupinhas à nossa porta, o cool, a
natureza, a macrobiótica, os micróbios fixes, as calças rotas (com rotinhos
desenhados geometricamente) compradas na loja, merdas que nos recordam a
existência de parágrafos. Quero dizer, estou aqui, ando por aí, cago, mijo, vou
comendo umas cenas, bebo muita cerveja (o que em princípio me aproximaria de
muitas unidades anatómicas), desloco-me de forma autónoma e locomotora, isto é,
sou uma espécie de material rodante privilegiado, não vou ao cinema ver aqueles
filmes do costume que depois passam duzentas vezes no Canal Hollywood, fumo
cigarros de enrolar uns atrás dos outros mas só lá mais para a noute, faço
merdas incrivelmente banais, passíveis de me anular completamente, mesmo
anuladinho de todo, ali a canto, e ainda assim parece que cresce uma vontade
(já não sei o que escrevi atrás) neste aparelho inóspito, uma contradição a dar
para o paradoxo (deixem passar), uma cena que não se consegue envolver em massa
pão, nem sequer esconder atrás da bicicleta do puto do vizinho, não se
consegue. Queria criar uma colecção primavera verão de mim próprio. Uma
colecção que arrumasse com isto.
terça-feira, 15 de março de 2016
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obrigado por estes textos.
ResponderEliminarde certeza que vou adorar a nova coleção:)
jinhs
de nada:)
Eliminarestamos em pleno processo criativo:) a passarela está aí à porta:))))
Vi um filme "vejo tudo nu" de Dino Risi. Descrevem como comédia. Não me lembro de rir. Gostei das cartas entre a Ornella e o Carlos Alberto. Só que ela só era Ornella à porta fechada e ele era sempre o Carlos Alberto. À distância o mistério é sempre mais misterioso ( deixa passar) :)
ResponderEliminarH.
:)
Eliminartenho algures esse filme ali para um monte atrás da ribanceira da estante:) ou à frente já não sei:) recordo partes e não e lembro de rir por aí além:) estaria mais concentrado em certas imagens?:))) De facto, à distância é tudo muito mais misterioso...