segunda-feira, 8 de julho de 2013

dia não sei quantos 368: duplo pano de fundo

De manhã, concretamente ao meio da manhã, comecei logo por não poder andar. Mas voltemos atrás. Seis e picos da madruga. Incumbência registada na mioleira: fechar todas as janelas que ficaram abertas (deixem passar, por favor), por causa do calor. A picada (pareceu-me na altura uma picada) na perna esquerda manifestava-se através de um ligeiro enrijamento com dor nas traseiras do joelho esquerdo, pertença da minha fabulosa perna esquerda que me valeu o epíteto de Futre Cão (ou Cão Futre?) muitas luas atrás. Entretanto fui mijar. Voltar a adormecer custou uma insónia de dois contos do Poe. Tudo de olho fechado. Pareceu-me um instante e já estava na cordilheira onde os sonhos nos devassam, outro instante e lá estava o meio da manhã escuro onde comecei por não poder andar. Ao sair da cama a perna cedeu, mas não muito, estás empenado, pensei, consegues empenar-te, pensei, fazendo ligeiros movimentos exploratórios, por momentos parecia que a sombra de Gregor Samsa andaria por ali, mas não podia ser porque estava escuro e não ocorrera metamorfose, até ver. Fiquei ali a pensar no gato que tinha começado por se chamar Boris Vian mas que com o passar dos anos foi recusando o nome letra a letra, ora porque não escrevia, ora porque não tinha estudado engenharia, ora porque não tocava trompete, ora por isto e ora por aquilo, e por aí fora, até ficar apenas Gato. Depois lá me levantei.

8 comentários:

  1. isso passa:)
    gostei muito da história do Gato e da música..

    Boa semana

    jinhs

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  2. cuidado com as picadas que empenam:)até o Kafka vai a banhos...

    DdC

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    1. :)
      ai empenam empenam:) a banhos hoje só de gelo...localizado eheheheheheh

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  3. Gerónimo Cão :)
    Mais um texto maravilhoso :)
    Muito, muito Obrigada


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  4. fabulástico sem tirar nem por!
    hasta

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