sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

dia não sei quantos 2/5 ou 1/75 da investigação: o transe

Deu-me para ir ao arquivo. A noite já dava para vários peditórios. Tentava não pensar. A intuição dizia-me para me enfrascar de drogas legais à  mingua de cerveja. Entrei num bar, mais parecia um entreposto para a morte cortado às postas. Agarrei a primeira posta e consegui chegar ao balcão vivo, mas ninguém o diria. Tem que se coma?, perguntei, seguindo uma jola em sentido contrário. Não obtive resposta, pelo menos em qualquer dialecto conhecido. É claro que não insisti. Qual é a raça?, perguntaram, da cerveja?, retorqui. Claro, o que haveria de ser. Aquela voz, embora fêmea, não tinha nada de fatal. Ganhei coragem e disse: bota aí também um martini. Misturado?, rosnou a voz. Nunca gostei que misturassem as minhas merdas, muito menos a cerveja com martini, uma cena artística que implica conhecimento e experiência, Escrevi no caderninho: deixa passar. Primeiro é preciso um copo de fino bem seco mas não quente, depois mistura-se- metade da minorca botelha de martini imediatamente com a cerveja e guarda-se o restante para repetir a cena. Pedi tremoços. Ninguém deu conta. Bebi mais dois do mesmo. Ou três. Não era preciso faca para cortar aquele ar de manteiga rançosa, misturado com tabaco de enrolar. Fumei um dos meus e depois outro. As pernas já me davam conta das cruzes, mas apenas assim conseguia ver as outras pernas que se prolongavam naquele corpo de fêmea. Começava a interessar-me por estas fêmeas de duas pernas. Que se foda o arquivo.

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