Conheci (ou imaginei, tanto faz) um tipo que
também era cão, um tipo-cão, um tipo (deixem passar) que fazia um dossier da
vida, encapava-a, jornais, revistas, pensamentos, livros, gastos, merdas que
queria fazer e não fazia, merdas que fazia e não queria fazer, comida que
gostava de malhar, tipas-cão, dias de sol à paisana, ventos que lhe recordavam
os seus cabelos, viagens adiadas, viagens vividas e desperdiçadas em
conversetas, viagens recortadas em suplementos de jornais, filmes, músicas, rosnadelas,
frutos diversos, os vários tipos de medo. Queria conferir a morte, o
envelhecimento, queria ter a certeza que o esquecimento não o precedia, queria
estar preparado para dizer não, escutar o não,
queria fundamentalmente não tomar isto a sério, um somatório de contradições,
dizia – é só confirmar. O dossier crescia a olhos vistos até se confundir com a
própria vida (aqui recorremos a Borges atravessando o rio num tronco finíssimo),
devidamente encadernada e colocada em estantes, em prateleiras, em bibliotecas,
em salas de estar, em nichos suspensos nas árvores e até em grutas cujo nível
de humidade era devidamente controlado. Aos poucos, o dossier em curso
dir-se-ia em tudo semelhante à vida, e o próprio vocábulo dossier era utilizado para dizer vida. Recordo o tipo-cão, não estarei enganado se afirmar que era
um belo dia de Julho, uma terça-feira de manhã, em tudo igual aos outros dias,
o tipo-cão tinha acabado de ler e catalogar, à socapa, um texto merdoso cujas lincadelas
pareciam afluentes do Nilo, olhou em redor para ver se não estava a ser
observado, a filmantes carburava, mas ele parecia estar mesmo a trabalhar, lá
se levantou vagueando o seu tédio pensativo pelo escritório, aguardava uma má
notícia a qualquer hora, e qualquer hora deixa de servir como uma boa hora para
uma má notícia que não chega, ou isso, o seu cérebro pós-texto e
pós-últimas-merdas-dos-últimos-tempos, assemelhava-se a uma daquelas
instalações pós-modernas que nos enrabam o olhar em alguns museus, mas neste
caso não fazendo qualquer sentido até para o próprio, obrigando-o a tomar
resoluções baseadas em folhas dispersas, rasgadas ao acaso, ou impressas em
pequeníssimos núcleos semelhantes a ilhas, uma caligrafia pequenina à Walser
ia-se infiltrando até ao último dos ácaros, talvez procurando desaparecer. Nesse
momento algo terá mudado. Mas não se sabe bem o quê.
domingo, 27 de julho de 2014
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mto bom:)
ResponderEliminarboa se-ma-na:)
jinhs
é o boca doce:) é bom é:)
Eliminargrande semana, a ver se:)
esta cena dava um conto:)ou isso:))
ResponderEliminarDdC vai de férias
é mais isso:) ou os contos:) carcanhol mesmo:)
Eliminarpara férias vai precisar de contos:) ou euros:)))
tendo em consideração (ou em linha de conta:) a largura do tronco, a coisa vai:))
ResponderEliminarempurra:))
Eliminarnãaaaaao:))