sexta-feira, 21 de junho de 2013

dia não sei quantos 351: diário de um louco

Juram a pés junto que os cães não falam, tão pouco escrevem, argumentam A priori dos factos, fazendo orelhas moucas. Ora, desde pelo menos o século XIX que se sabe que não é assim. Aksénti Ivánovitch (que um acaso o colocou num conto do Gógol) ouve perfeitamente a cadela Medji a falar com a cadelinha Fidèle assim: «estive…au, au…estive…au,au,au!...muito doente», confessando-se surpreendido por ouvi-la falar em língua humana, mas mais adiante a Medji volta à carga e diz a Fidèle em linguagem humana (Aksénti Ivánovitch não se interroga sobre a razão pela qual dois cães falam em linguagem humana e não canina – talvez pense que é para ele entender eheheh): «escrevi-te; pelos vistos, o Polkan não te entregou a minha carta!». Aksénti Ivánovitch jura pelo seu vencimento que nunca tinha ouvido falar de um cão que soubesse escrever (falar ainda vá – casos idênticos foram identificados na Inglaterra com peixes), para Aksénti Ivánovitch escrever correctamente é coisa de fidalgos, alguns comerciantes e vá lá, alguns escriturários, sendo certo que mesmo alguns servos da gleba garatujam alguma coisa, mas numa escrita mecânica, sem pontos, vírgulas, ou qualquer estilo, tipo os moços agora a escrever SMS ou a responder a questões nos exames de português e outras disciplinas. Fiquei intrigado por ele ter ficado intrigado, bastaria ler o Diário de um Cão em vez de escrever o Diário de um Louco. Eu já volto. 

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