Ontem comecei por escrever assim: sem tentar afugentar o
lirismo fácil das emoções, estando estas a reboque, ou não, de condicionalismos
mais ou menos exteriores, afirmo que nem sempre é fácil encontrar livros, ou
mesmo obras de cariz ponderadamente literário/cientifico, sem que demasiadas
insinuações técnicas nos levem a desbravar caminho através de outros
mecanismos, desaguando, não raro, em apeadeiros de verdadeira fancaria
editorial, como facilmente se observará em qualquer escaparate das nossas (assim
ainda hoje denominadas) livrarias. O caso de Daniel Goleman, não sendo único,
condiciona a nossa (modesta) atenção por alguns momentos, desde que isso não
interfira com os resumos dos jogos da premier league. Isto foi ontem. Hoje
acrescentaria o Oliver Sacks, ambos injustamente colados ao plinto efémero que
enxameia as nossas (ainda assim denominadas) livrarias. Comum a estes dois, o
estudo do cérebro e uma mão amiga que os fez desaguar na casota. Mas não posso
deixar de sorrir imaginando algumas unidades anatómicas humanas, naquele
momento inicial de desfolhamento, ao lerem: o
funcionamento da amígdala e as suas interacções com o neocórtex estão no cerne
da inteligência emocional, ou na
arquitectura do cérebro, a amígdala funciona assim como uma empresa de
segurança cujos funcionários estão sempre prontos a chamar de urgência os
bombeiros, como, por exemplo, escreveu Goleman no seu livro “inteligência emocional”. Mas tudo isto foi
antes ou quase ao mesmo tempo da leitura de uma entrevista de António lobo
Antunes a um semanário, leitura essa que teve como consequência quase imediata a
ingestão de um copo de água e duas saídas desvairadas à rua. António Lobo
Antunes seria um escritor extremamente interessante, para não dizer genial, se
não escrevesse, ou se não tivesse escrito os seus últimos (assim denominados) vinte
livros, António Lobo Antunes, seria um grande escritor de livros se, e só se, se
ficasse pelas entrevistas, por algumas crónicas em jornais regionais, compartilhando
o seu cérebro, amígdala e neócortex com a gente, em suma, António Lobo Antunes
seria um grande genial escritor, se nos permitisse imaginar algumas das suas
obras a partir das suas entrevistas, sem nunca as ter escrito. Isto para o bem
da humanidade, permitindo, ao mesmo tempo, um Vila-Matas de volta às lides com
um livro sobre escritos apócrifos, imaginados por cérebros caseiros a partir de
entrevistas falseadas. Agora vou limpar a casota.
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Já saquei:)
ResponderEliminarhttp://anjoinutil.blogspot.pt/2017/02/nao-entres-tao-depressa-em-babilonia.html
ResponderEliminarJá lá fui:))
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