O processo de endrominação dos sentidos é sempre coadjuvado
por uma inépcia em tudo semelhante à banha da cobra. Posto isto e,
desacreditando todo e qualquer ponto de partida, convém salientar a forma como
o trabalho (seja ele qualquer for, vestindo qualquer uma das suas fatiotas)
manieta os nossos sentidos, erguendo cerco ao nosso mais íntimo baluarte que é
o corpo, morada postal do espírito. Os primeiros sintomas (no meu caso muito
tardios) manifestam-se sobre a forma de um mal estar ténue, uma inquietude rústica,
um não sei que fazer com as mãos e com o cérebro, desenvolvendo ramificações,
primeiro imperceptíveis, depois expostas a qualquer elemento cuja atenção seja
a de um ser desperto, tomando por fim a forma de uma expressão muito em voga
nas imediações das redes sociais: tenho que estar sempre a fazer qualquer
coisa. Esse tenho que estar sempre a fazer
qualquer coisa, não é, de todo, natural, não se encontrando em qualquer
manual de assuntos banais da antiguidade, clássica, ou não, sendo completamente
desconhecido esse tenho que estar sempre
a fazer qualquer coisa, inclusive do homem pré-histórico que, como se sabe,
não tinha televisão. Esse tenho que estar
sempre a fazer qualquer coisa, mesmo tardio, no meu caso pessoal, contamina
qualquer frincha de liberdade, qualquer hora fora do local de trabalho, tornando-se
viral nas folgas, nas férias, nas vésperas de um jogo de futebol ou mesmo antes
desse jogo à 5ª ou 6ª cerveja, apenas desaparecendo lá para a 11 ou 12ª
cerveja, mas aí já sem jogo de futebol que as valha. Esse momento único de estar à
janela em frente às ramadas da infância navegando à deriva pelo mundo, torna-se
uma coisa planeada e colocada na porta do frigorífico junto com aquele íman nojento
de Madrid. Na melhor das hipóteses o doente torna-se um escritor mediano de
viagens, mas de viagens planeadas, nunca daquelas viagens à volta do quarto
(perdoa-me De Maistre), ou daqueloutras, mais antigas, em que alguém se fazia
transportar acompanhado pelo seu corpo rodeado de mundo. Dar um tempo é a pior
coisa que alguém nos pode dizer (ou pedir),isso... e contar as suas férias. Embora
se reconheça que, caminhar com o sol a tiracolo numa batalha corpo a corpo é sempre de considerar. A inveja é uma coisa fodida...
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
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só pode ser inbeja:) ou inévora:)
ResponderEliminaraparece no tasco!
e obrigado pela linkadela:)
ResponderEliminarei!
Eliminarsó pode ser lá perto:) bem me parecia:))