terça-feira, 5 de janeiro de 2016

2015, ou isso...

Todas as minhas vivências heterónimas foram assoladas por um comboio de camiões (deixem passar que é tipo aquele do comboio dos duros), repleto de emoção e emoções, pouca terra, pouca terra, huu huuu, chuva, sol, alguns mastins em perseguição e morte. Uma morte significativa, real, que supostamente me fez (faz?) sentir a morte e a vida, ou vice-versa, ainda dois mil e quinze ia no adro. Isso e o trabalho de pasto, cuja duração (mais uma vez) roçou o tempo de antena televisivo do emplastro, deram o mote à sopinha de nabos que me acompanharia na desmama dos dias. De qualquer maneira não se tem a certeza de estar vivo entre estas conversas sem cabaret que as valha, ornadas pela tasquice mundana da moda, gordurosas as putas das palavras desperdiçadas entre bancos de jardim, vazios, agarram tudo até essas palavras das conversas que levo nos bolsos e deito fora. Entretanto, imagino com deleite um ano ainda pior que essa água estagnada polida neste penico do céu, isto vai, penso, mais um dia, dois, três mil, seiscentos e picos, que horas são?, mas com direito a ar condicionado, trabalho condicionado, a coisa lá ia à base de descarregar livros nas férias da estiva. Uma vez quis ser estivador e fui lá ao sítio da estiva, não fui sozinho levei outro bêbado, foi numa qualquer noite anterior a qualquer coisa e depois logo de manhãzinha começou o mito. Fiz, é sabido, um pacto de anulação com a vida, zero a zero e não se fala mais nisso, embora lá vá semeando a discórdia a desoras (que a idade não perdoa não é Lautreamont?), ainda assim pareço-me digno de figurar num guia de bons costumes em fancaria. Não obstante, continuamos (aqui já no plural), são seis pães, por favor, que bons ovos, olhe era uma cerveja, duas cervejas, trezentas cervejas, chá verde matinal a acolchoar a dor de cabeça, olhe veja lá se está disponível um dia destes caro cérebro, não diga isso meu bom amigo – mesmo ao fim de semana a alcateia passeava-se na redoma universal, o bom deus pachorrento, infiltrações de tédio ruminavam odes cada vez mais ruidosas, vamos lá ao centro comercial mostrar as nossas dores ao Cão. E depois chovia, ou nem isso. Um lago imaginário cercado por um poente imaginário (deixem passar) voltava a pintar-se junto aos dogmas: a família, o amor, o leite de soja – enquanto isso a vida consumindo-se em recordações metalúrgicas, barcos que não partem nunca, corpos a suar aquele perfume trazido pelo mar da escrita de Melville. Voltamos a abrir a porta, a caminhar junto ao hall desse ínfimo mundo, a escrevinhar acerca do temporal do outro lado do abismo. É quase sempre a mesma merda. E cada vez somos menos. 

7 comentários:

  1. emocionas-me e fazes-me rir ao mesmo tempo:))
    bom ano:)

    DdC

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  2. não podemos jogar para o empate:))) vamos a este ano com força:)

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  3. não podemos jogar para o empate:))) vamos a este ano com força:)

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    1. :)
      o melhor é semear a discórdia no seio das famílias:) deve dar para colher qualquer coisa:) este ano vai:))

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  4. do temporal do outro lado do abismo:)lindo e ao mesmo tempo nao sei k dizer:)
    bom a ano

    jinhs

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