Todas as minhas vivências heterónimas foram assoladas por um
comboio de camiões (deixem passar que é tipo aquele do comboio dos duros),
repleto de emoção e emoções, pouca terra, pouca terra, huu huuu, chuva, sol,
alguns mastins em perseguição e morte. Uma morte significativa, real, que
supostamente me fez (faz?) sentir a morte e a vida, ou vice-versa, ainda dois
mil e quinze ia no adro. Isso e o trabalho de pasto, cuja duração (mais uma
vez) roçou o tempo de antena televisivo do emplastro, deram o mote à sopinha de
nabos que me acompanharia na desmama dos dias. De qualquer maneira não se tem a
certeza de estar vivo entre estas conversas sem cabaret que as valha, ornadas
pela tasquice mundana da moda, gordurosas as putas das palavras desperdiçadas
entre bancos de jardim, vazios, agarram tudo até essas palavras das conversas
que levo nos bolsos e deito fora. Entretanto, imagino com deleite um ano ainda
pior que essa água estagnada polida neste penico do céu, isto vai, penso, mais
um dia, dois, três mil, seiscentos e picos, que horas são?, mas com direito a
ar condicionado, trabalho condicionado, a coisa lá ia à base de descarregar
livros nas férias da estiva. Uma vez quis ser estivador e fui lá ao sítio da
estiva, não fui sozinho levei outro bêbado, foi numa qualquer noite anterior a
qualquer coisa e depois logo de manhãzinha começou o mito. Fiz, é sabido, um pacto
de anulação com a vida, zero a zero e não se fala mais nisso, embora lá vá
semeando a discórdia a desoras (que a idade não perdoa não é Lautreamont?),
ainda assim pareço-me digno de figurar num guia de bons costumes em fancaria.
Não obstante, continuamos (aqui já no plural), são seis pães, por favor, que
bons ovos, olhe era uma cerveja, duas cervejas, trezentas cervejas, chá verde
matinal a acolchoar a dor de cabeça, olhe veja lá se está disponível um dia
destes caro cérebro, não diga isso meu bom amigo – mesmo ao fim de semana a
alcateia passeava-se na redoma universal, o bom deus pachorrento, infiltrações
de tédio ruminavam odes cada vez mais ruidosas, vamos lá ao centro comercial
mostrar as nossas dores ao Cão. E depois chovia, ou nem isso. Um lago imaginário
cercado por um poente imaginário (deixem passar) voltava a pintar-se junto aos
dogmas: a família, o amor, o leite de soja – enquanto isso a vida consumindo-se
em recordações metalúrgicas, barcos que não partem nunca, corpos a suar aquele
perfume trazido pelo mar da escrita de Melville. Voltamos a abrir a porta, a
caminhar junto ao hall desse ínfimo mundo, a escrevinhar acerca do temporal do
outro lado do abismo. É quase sempre a mesma merda. E cada vez somos menos.
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
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emocionas-me e fazes-me rir ao mesmo tempo:))
ResponderEliminarbom ano:)
DdC
e cada vez somos menos:)))bom ano!
Eliminarnão podemos jogar para o empate:))) vamos a este ano com força:)
ResponderEliminarnão podemos jogar para o empate:))) vamos a este ano com força:)
ResponderEliminar:)
Eliminaro melhor é semear a discórdia no seio das famílias:) deve dar para colher qualquer coisa:) este ano vai:))
do temporal do outro lado do abismo:)lindo e ao mesmo tempo nao sei k dizer:)
ResponderEliminarbom a ano
jinhs
temos sobretudo de ser fortes:)))
Eliminarbom ano então!!