terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
A amígdala é crucial para o medo, disse ele
É incrível como a vida é prosaica, não num sentido, digamos
assim, despoético, não, será mais num sentido (deixem passar) da banalidade do
real, o que em si mesmo funciona como uma pós-verdade (isto para mostrar alguma
actualidade num recinto onde a trivialidade reina), isto é, um caldinho de merdas tão
grande que o termo pós-modernismo já
não conseguia abarcar, e olhem que o caralho do pós-modernismo era um bidão espacial do tamanho daquelas cenas que
o Soviéticos colocaram à deriva no espaço que é de todos, ainda assim o
pós-merdinismo, perdão, o pós-merdinismo da pós-verdade, fica muito aquém,
vão-me desculpar, daquela sua prima jeitosa, a inverdade, isto para não ir
muito longe. A vida é de uma prosaicidade (existe, existe) tal, que nos convence da sua
beleza (que ninguém repara), e quase nos convence (se estivermos realmente
despertos) que todos os dias se aprende alguma coisa, como eu bem o senti hoje,
enquanto colocava as camisas na máquina de lavar juntamente com o polar preto,
umas meias, dois pares de cuecas e outras cenas indecifráveis, tudo em modo
lavagem rápida, para depois sentir uma alegria indescritível (meia hora depois
para ser mais concreto) ao observar as camisas impecavelmente lavadas e quase
passadas a ferro (a qualidade do material das ditas ajuda – bem hajam fardas belas), sem precisar de nada
mais que não o sol a versejar lá em cima. Depois fui engraxar umas botas CAT,
já com o fito de colocar os lençóis polares numa experiência alquímica com a
máquina de lavar. Tenho uma vida muito interessante, para não dizer prosaica.
Vou agora ouvir isto e esperar o picheleiro para mudar o autoclismo.
domingo, 12 de fevereiro de 2017
O cérebro, a amígdala, e o amante dela
Ontem comecei por escrever assim: sem tentar afugentar o
lirismo fácil das emoções, estando estas a reboque, ou não, de condicionalismos
mais ou menos exteriores, afirmo que nem sempre é fácil encontrar livros, ou
mesmo obras de cariz ponderadamente literário/cientifico, sem que demasiadas
insinuações técnicas nos levem a desbravar caminho através de outros
mecanismos, desaguando, não raro, em apeadeiros de verdadeira fancaria
editorial, como facilmente se observará em qualquer escaparate das nossas (assim
ainda hoje denominadas) livrarias. O caso de Daniel Goleman, não sendo único,
condiciona a nossa (modesta) atenção por alguns momentos, desde que isso não
interfira com os resumos dos jogos da premier league. Isto foi ontem. Hoje
acrescentaria o Oliver Sacks, ambos injustamente colados ao plinto efémero que
enxameia as nossas (ainda assim denominadas) livrarias. Comum a estes dois, o
estudo do cérebro e uma mão amiga que os fez desaguar na casota. Mas não posso
deixar de sorrir imaginando algumas unidades anatómicas humanas, naquele
momento inicial de desfolhamento, ao lerem: o
funcionamento da amígdala e as suas interacções com o neocórtex estão no cerne
da inteligência emocional, ou na
arquitectura do cérebro, a amígdala funciona assim como uma empresa de
segurança cujos funcionários estão sempre prontos a chamar de urgência os
bombeiros, como, por exemplo, escreveu Goleman no seu livro “inteligência emocional”. Mas tudo isto foi
antes ou quase ao mesmo tempo da leitura de uma entrevista de António lobo
Antunes a um semanário, leitura essa que teve como consequência quase imediata a
ingestão de um copo de água e duas saídas desvairadas à rua. António Lobo
Antunes seria um escritor extremamente interessante, para não dizer genial, se
não escrevesse, ou se não tivesse escrito os seus últimos (assim denominados) vinte
livros, António Lobo Antunes, seria um grande escritor de livros se, e só se, se
ficasse pelas entrevistas, por algumas crónicas em jornais regionais, compartilhando
o seu cérebro, amígdala e neócortex com a gente, em suma, António Lobo Antunes
seria um grande genial escritor, se nos permitisse imaginar algumas das suas
obras a partir das suas entrevistas, sem nunca as ter escrito. Isto para o bem
da humanidade, permitindo, ao mesmo tempo, um Vila-Matas de volta às lides com
um livro sobre escritos apócrifos, imaginados por cérebros caseiros a partir de
entrevistas falseadas. Agora vou limpar a casota.
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