terça-feira, 24 de janeiro de 2017

a descrição da infelicidade

Foi mais ou menos assim: eu tinha acordado por volta das 4h da madrugada. Olhei o relógio e sorri, lembro-me bem. A cena seguinte foi já devidamente embalada pelo sistema sonoro fornecido pelo antiguinho blackberry, de cuja garganta tudo se pode esperar. Saltei e vociferei o costumeiro “não acredito”. Na terceira cena deste episódio já tinha as calças e trinte camadas de roupa a guarnecer-me o corpo. Lá fora a escuridão gelada não dava tréguas (imaginei). Engoli meio croissant do dia anterior mais ou menos à pressão do chá verde. Por que carga de água tinha eu que me deslocar ao trabalho àquela hora? Sete, sete e picos. Já não recordava bem a razão, mas sabia que tudo aquilo fazia parte de uma conspiração internacional articulada com uma conspiração cósmica de cariz um tanto ou quanto religioso. Corri para apanhar a boleia enquanto matutava nisto, naquilo e naqueloutro. A coisa foi relativamente rápida, quando dei por mim tinha o corpinho outra vez em casa e uma longa fila de merdas para fazer, não fosse este o dia mais cumprido do ano. A saber: lavar e secar roupa; proceder à lavagem, praticamente total, da casota; arrumação de umas cenas que incluíam livros (gritos!!!!!); confecção de uma sopa onde um dos ingredientes principais seria o nabo; banho e corte dos pêlos faciais; almoço tardio; leitura e observação (possivelmente) de um filme. Refundir as séries para mais logo. Organizar outras cenas. Enquanto escrevo “outras cenas” ganho coragem para, humildemente, mergulhar no caos mais generalizado ou na descrição da infelicidade, segundo W.G. Sebald. Acho que vou optar pela segunda, ou, quem sabe, misturar tudo. Gosto de dias assim, dias de alma ocupada. Ou isso. Bem hajam. 

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