domingo, 24 de julho de 2016

dispensa de retenção

às vezes ao domingo é domingo: os vizinhos do lado fazem o seu número de circo brejeiro,  escutando-se bem, lá em baixo, enche uma banheira, o sol tenta entrar coado por várias barricadas e, não tarda, cheirará a algum assado com batatinhas, mesmo sendo verão. Às vezes é domingo ao domingo: limpar a casota, dar de comer a um ou dois vícios, ficar em casa até ao final da tarde, extenuado por um tédio galopante, fazendo contas à vida que se esvai numa lentidão de formalidades, maneirismos, preocupações, diversões vazias e auto-impostas, enquanto não chega hora de mais uma formalidade protocolar, ser recebido num tasco por membros de uma seita de idiotas chapados. Às vezes ao domingo é domingo e temos consciência disso. O pior é quando se aproxima uma segunda-feira que também é domingo. O sábado de ontem cometeu suicídio. Por esse facto pedimos as nossas desculpas e a vossa melhor compreensão.

domingo, 17 de julho de 2016

A escorregar na obscuridade

queria andar com uma sapatilha com atacador de bruma para quem anda nas nuvens, escreveu um dia Dinis Machado, era com sapatos, acho, não interessa, um atacador de bruma faz sempre jeito para quem anda nas nuvens, podia ser um atacador de nevoeiro cerrado, mas não era a mesma coisa, queria viver junto ao aço dos corações como quem voa, ou nem isso, coração pequenino, desperto em múltiplas situações que o bater das asas desconhece, correr assim como quem vai à mercearia antiga e depois os produtos são levados a casa, está calor, aí estão os artigos, folha de vinte e cinco linhas, a contabilidade das dores, não oxida?, nunca oxida a contabilidade, também temos gestão das dores, é outra coisa, a gente leva a casa, não se preocupe, não oxida, é perto do mar?, aí vão as dores, ó se vão, agora em contentor, vou correr com isto tudo a tiracolo, sai uma bomba da asma, e parágrafo nada?, não sei nadar, diz a encomenda, mas vai, vai como quem não sai do sítio, deve existir uma aplicação para isto tudo, deve, deve existir um sítio onde se sentam todas as dores, a luz é péssima, diz que sim, mas vá que não vá, um sítio onde as dores fazem um barulho de ondas, ali, diz que será ali. ninguém sabe...

sábado, 2 de julho de 2016

Feira medieval de antiguidades suevas


A páginas tantas lembrei-me da antiga Roma, não da série, mas de uma quantidade de merdas que li e sobrevoei durante estes caninos anos da minha vida, a cena do circo, quer dizer, pão (algum) e circo, Roma percebeu logo a decadência na plenitude dos sentidos, percebeu o logro, o simulacro do entretenimento como forma de empapar os sentidos, percebeu-o em vida, afastando-se já daquele tronco grego de que tanto havia sorvido a seiva. Nem isso é hoje o país da bola cujos bilhetes saem no juá de uma grande superfície. À tona percebe-se uma alegria que apenas bruxuleia perto de uma câmara de televisão, na recepção de um autocarro, numa promoção de leve dois pelo preço de um. Nos estádios, faz pena aquele silêncio de quem mói um pensamento, de quem está  habituado a curvar-se ao destino, de quem não sabe a importância de um símbolo. O rebanho acardita naquilo como acardita no Big Brother para incontinentes. Tanto faz. Faltam apenas dois empates.