quarta-feira, 30 de março de 2016

Estava a pensar nisto

Se, como afirma Clausewitz, a estratégia é a utilização da batalha para ganhar o fim da guerra, então o que fazer da vida? Quer dizer, partindo do princípio de que a vida é uma batalha.E mesmo sendo uma batalha, será possível ganhar a guerra? Faremos então os possíveis para que a vida não seja uma batalha e, nesse caso, não precisaremos de uma estratégia (não há guerra para ganhar). Ok?

sexta-feira, 25 de março de 2016

terça-feira, 22 de março de 2016

Fica-te tão bem esse Artaud

Não sei porquê, se calhar até sei, mas não me apetece dizer, volto sempre às maravilhosas primeiras páginas do “Heliogabalo ou o anarquista coroado”, desse génio merecidamente e estoicamente incompreendido, que dava pelo nome de Antonin Artaud, um tipo que já carreguei bastas vezes às costas, eu bêbado, ele morto bem morto a rir-se de mim como um perdido, e já sabemos pelas palavras sempre avassaladoras de Bataille que o riso é mais divino, é mesmo mais indecifrável do que as lágrimas. Estava eu nisso, quer dizer, tinha umas merdas importantes para fazer e arranjei logo maneira de não o fazer, como?,  voltando às primeiras páginas do “Heliogabalo ou o anarquista coroado”, desse génio merecidamente  e estoicamente incompreendido, que dava pelo nome de Antonin Artaud, resisti à magnífica primeira página do capítulo “o berço de esperma” e segui para a segunda página do mesmo capítulo onde ansiosamente li: mas há que ver como esse culto, extinto e reduzido às ossadas de gestos a que Bassianos se entregava, ressuscita, desde o aparecimento de heliogabalo menino nos degraus do templo de Emesa, e retoma, sob as práticas e os paramentos, a sua energia de ouro concentrado, de luz retumbante e cercada, e volta a ser prodigiosamente activo. Com isto desaguei aqui, ganhando tempo ao fazer em nome do não fazer. 

quinta-feira, 17 de março de 2016

a forma que aspira a um fim

pensava eu (deixem passar) na minha (futura) nova roupagem primavera verão, pensava nisso como quem come nozes sem cerveja por perto, isto é, distante, não apenas dos pensamentos como da distância que nos separa(va), talvez por ser ainda de manhã, não sei, de qualquer maneira os pensamentos ganharam outra forma, mais leve, uma penugem que escondia algures uma luzinha que depois (certamente) se reflectiria no olhar (o meu, mas desta perspectiva não é fácil assegurar),  um pensamento cuja matriz (de cor cinzenta) se firmava nos últimos dias, dias em que uma nuvem afecto-contagiosa (de cor cinzento escura, embora parecesse aos incautos branquinha como cal), se instalara no espaço cognitivo da República com consequências ainda difíceis de analisar à vista desarmada [PAUSA: O AUTOR DESTAS LINHAS TEVE QUE SE AUSENTAR POR MOTIVOS PESSOAIS DURANTE, deixa ver, CERCA DE TRÊS HORAS… e EIS QUE VOLTA]:
…. quer dizer, essa virose (que atingiu inclusive dois conhecidos meus e um papagaio da vizinhança, mas neste caso com consequências muito inferiores) que se propagou pela forma da cidade (a Politeia, também se poderá ler constituição – uma cena dos gregos), contaminando ilusoriamente, simulando, constituindo-se como acto solene de fancaria, cujas verdadeiras proporções (e consequências) estão ainda longe de ser conhecidas. Quem entrasse na República por estes dias, teria a insidiosa sensação de estar a entrar na casa de pasto do costume, mas sem serrim no chão, com paus de incenso perto dos rojões (agora magros), e uns tipos e pasme-se (tipas) a beberem coquetailes a acompanhar as tripas e o sangue. Já para não falar na delicadeza no atendimento. Imaginem só!

quarta-feira, 16 de março de 2016

e ficou ali parado...

O Jardim de Verão estava carrancudo, escreveu a páginas tantas Béli no seu Petersburg, no início do quarto capítulo, o tal em que a linha da narração se quebra e um tipo fica agarrado aos tomates, mas apenas por breves instantes. Já se sabe como estas coisas doem. 

terça-feira, 15 de março de 2016

Colecção primavera verão

Às vezes, não sei bem porquê, tudo isto me mete nojo, o que é tudo isto?, sei lá, em primeiro lugar sou eu, tenho uma posição privilegiada para me ver, pelo menos era o que pensava, na verdade não vejo um caralho à minha frente de mim (deixem passar), e relativamente às outras frentes vejo, distingo, rumino, martirizo-me com merdas que não interessam a ninguém,  não aprendo nada, não aprendi nada, penso, mas até esse pensar é pesado, balofo, entregue a uma voragem que culmina sempre no caralho do eu, eu, eu, mim, mim, eu, ou isso, é como se transportasse o meu cadáver às costas (como num poema, não me lembro qual), ou se calhar transportasse a ideia de um cadáver que transportava às costas, não podemos esquecer que o cool arrumou as suas roupinhas à nossa porta, o cool, a natureza, a macrobiótica, os micróbios fixes, as calças rotas (com rotinhos desenhados geometricamente) compradas na loja, merdas que nos recordam a existência de parágrafos. Quero dizer, estou aqui, ando por aí, cago, mijo, vou comendo umas cenas, bebo muita cerveja (o que em princípio me aproximaria de muitas unidades anatómicas), desloco-me de forma autónoma e locomotora, isto é, sou uma espécie de material rodante privilegiado, não vou ao cinema ver aqueles filmes do costume que depois passam duzentas vezes no Canal Hollywood, fumo cigarros de enrolar uns atrás dos outros mas só lá mais para a noute, faço merdas incrivelmente banais, passíveis de me anular completamente, mesmo anuladinho de todo, ali a canto, e ainda assim parece que cresce uma vontade (já não sei o que escrevi atrás) neste aparelho inóspito, uma contradição a dar para o paradoxo (deixem passar), uma cena que não se consegue envolver em massa pão, nem sequer esconder atrás da bicicleta do puto do vizinho, não se consegue. Queria criar uma  colecção primavera verão de mim próprio. Uma colecção que arrumasse com isto. 

sexta-feira, 11 de março de 2016

Uma sombra olhava a outra

hoje dormi umas nove horas, quase prego a fundo, quando acordei fiquei na penumbra a sentir os membros dormentes, adormecidos, estava ali diante de mim como uma pedra diante de outra pedra, claramente uma era mais dura, ainda assim talhada numa forma indefinida, embora eu conseguisse perceber que o escultor se estava a marimbar para o efeito. Nada disto se entrevia facilmente, porque filtrado por uma luz minúscula, que se resumia a um esplendor indecente rosnado por debaixo da porta, parecia mesmo rosnado, um feixe de luz miserável que se divertia em diatribes no quarto. Além. Também fazia escuro dentro de mim, mas esse escuro dentro de mim parecia estrangeiro, tisnado pela luz, formando uma camisola de equipa adversária, as listas não eram horizontais, nem verticais, mas eram certamente listas, juro, a cada momento uma tenaz poderia assomar com a sua voz a indicar o caminho dos cereais, do duche, cereais?, pensei, enquanto bebia água (isto às escuras) de uma garrafa localizada estrategicamente na mesa de cabeceira. Foi então que gritei. A voz devolveu-me uma certa calma e a janela finalmente abriu-se: estava sol. Isto não quer dizer nada, pensei...

quinta-feira, 10 de março de 2016

isto vai

hoje até dormi quase sete horas, acordei a pensar na cena, já ontem dormi seis e acordei a pensar em cenas, levitei nessas cenas durante quase um hora e voltei a adormecer, voltei a acordar, as cenas habitavam um espaço muito confuso com árvores e castelos medievais, uma cidade ali para os lados da Guarda, uma posta de pescada cozida (tenho saudades de pescada fresca cozida), dois contos intermináveis, uma posta a publicar, aquilo era um lugar muito estranho, pouco recomendável. Levantei-me ainda com a cenas que carreguei todo o santo dia, isto ontem, hoje vai pelo mesmo caminho, as cenas bifurcam-se, encolhem, insinuam-se como a Cristina Ferreira em revistas estrangeiras aos gritos, porque gritas?, perguntam-lhe, ela não sabe responder coitadinha, levantei-me, isto hoje, decidido a meter as cenas na ordem, mas estava, estou, dobrado, lavei os dentes antes de tomar o pequeno almoço deixei arrefecer o chá, duchei no meio disto tudo, acho. Isto vai...

terça-feira, 8 de março de 2016

um gajo fica mesmo a pensar nesta merda:

O aborrecimento é o envelhecimento da seriedade, escreveu um dia Oscar Wilde (só podia ser, diz-me a voz)

sexta-feira, 4 de março de 2016

faz de conta

que estou sóbrio (podemos extrapolar por favor?) e escrevo isto na posse de, pelo menos, duas ou três faculdades, entendidas respeitosamente como tal, posto isto, e posto mesmo aquilo, ou outra coisa qualquer, exige a demanda uma declaração de interesses, a saber, o escriba deste diário é um ser vivo residente em território português, pedaço de terra com nove séculos de histórias para contar (isto faz-me lembrar qualquer coisa), sem contar (deixem passar) os séculos anteriores ao nascimento do menino, ora este ser vivo não consegue acompanhar com suficiente indiferença (temos que ter em conta o muito tempo livre, apesar do estudo) a vertigem estupidificante, imbecilizante até idiotizante (sem contar com o futebol nas suas ramificações do mais profundo e inoxidável vazio) que nos assola de norte a sul e até no alentejo, perto de lisboa, já para não falar da madeira, que é como quem diz. Não fosse a minha total dependência relativamente à vida, uma vida, aliás, consagrada ao desmantelamento do sistema de parágrafos (atente-se no tamanho do anterior), e possivelmente assistiríamos ao nascimento de uma revolta (veja-se este filme, por favor) cujo desenlace estaria, porventura, muito bem escondido, amordaçado, e até projectado no inimigo, num livro do Eco, por exemplo o Péndulo de Foucault, descoberto num cemitério de Praga. Eu já volto com a história toda.

terça-feira, 1 de março de 2016

entretanto...

levei o cérebro a pastar, e não tarda vou a mais uma cena para inspector dos cogumelos. Só queria ser um funcionário cansado.