quinta-feira, 28 de maio de 2015

dia não sei quantos à quinta: aprender é preciso

Um dia, talvez entre um copito e outro de vinho, Omar Khayyam escreveu assim: medos de inferno, e esperanças de outro céu!.../ que a vida foge é toda a ciência que eu / pude aprender, e tudo o mais mentira. / A flor que foi é flor que já morreu.

terça-feira, 26 de maio de 2015

dia não sei quantos à terça: olhando a tristeza o sol com peneira

Numa noite qualquer, olhando com tristeza a lua, Li Po escreveu assim: Num vácuo de alma / sento-me e canto / e penso em ti / profundamente. / Não nos veremos. / O gozo é morto. / É indizível / a dor que está / no coração / do homem. Já... volto...

quarta-feira, 20 de maio de 2015

dia não sei quantos quarta: é mais ou menos isto

Abrir o olho, beber um copo de água, abrir o outro olho, voltar por momentos ao escuro, aquecer água para um chá preto, carbonizar a torrada, comer tudo e beber tudo enquanto se faz uma ligação à terra através de um objecto rectangular com ecrã, rir-se da capa do jornal desportivo bolenfica, esquecer a ligação à terra, pensar uma pequena lista de compras na mercearia e já estará na hora do fluroato de fluticasona e do budesonida/fumarato de formoterol di-hidratado; começar uma segunda fase de indecisões apriorísticas… retomar o fio à meada debaixo da tal mesa de centro usada como suporte de candeeiro, vestir o fato de treino ir ao pão fresco, voltar chegar a casa fazer três flexões upa upa duchar que se faz tarde, não sem antes pensar na vida este mês o próximo que merda, não será bem assim… escrever: abrir o olho, beber um copo de água... [a agora talvez ler umas merdas]

segunda-feira, 18 de maio de 2015

dia não sei quantos segunda: promoção de expectativas

continuar com a ode ao sol em pensamento; resistir à interação do tempo seco, calor e pólen; montar uma banca de promoção de expectativas; servir uns sumos frescos com vodka na banca de promoção de expectativas; encher o bandulho na casota da progenitora; adquirir a cena com 27,5 microgramas de fluroato de fluticasona (ver: resistir à interação do tempo seco, calor e pólen); atravessar o grande canal que desagua no caralho do centro das expectativas acopladas à tabuleta: dia(s) de folga; passar na biblioteca; tentar disfarçadamente aparecer nas tais provas de agremiação do mestre; não passar em alfarrabistas; ler umas merdas; beber cerveja ao final da tarde...

 
banca de promoexpectativas: 10% directos  + 20% em cartão   

domingo, 17 de maio de 2015

dia não sei quantos domingo: já acordado?

quem diria a pensar na morte da bezerra, as perninhas a assinalar a penumbra no quarto, dir-se-ia que, como um dia escreveu Sebastião Alba, escutando bem, ouve-se como ao pé das estátuas / música de uma fanada melancolia...

[agora vou ali escrever - em pensamento- uma ode ao sol]

segunda-feira, 11 de maio de 2015

dia não sei quantos segunda (acho): por escrito

dá igual, mas um tipo continua, faz contas à vida, envia faxes à transcendência, por favor onde é que se assina?, não, não seria para toda a eternidade -  essa redundância - se é eternidade é... toda, deixem passar, não,  já não me lembro, e depois passam os dias as horas minutos, tudo ao contrário a alimentar o recipiente das recordações, e se?, e tal?, népia, ao menos está sol a terra dá mais uma voltinha, cão não paga mas também lá anda...

quinta-feira, 7 de maio de 2015

dia não sei quantos quinta: andar na zona

tudo é mais difícil quando se é homem feito, diz-nos Énard, ou Yvan Deroy ou Francis Servain Mirkovic, a vida o corpo assemelham-se a recipientes, nem sempre etiquetados que ora se vão enchendo ora esvaziando - hoje levantei-me cedo  num despertar agitado de sonhos ainda a aflorarem listagens de merdas para fazer ensacadas sem sentido e dispersas no escuro, levantei-me de encontro ao sol ao chá à torrada, tratar de vida, quantos metros quadrados terá esta desordem?, a minha a da casa, ambas a mesma, olho agora lá para fora, estou ali  junto à janela a ler um livro sentado na poltrona verde garrafa, o mesmo sol cativo a entrar, um sol de encolher de ombros, nada basta, nada chega, volto ao livro, tudo é mais difícil quando se é homem feito, ou cão, dá igual…

segunda-feira, 4 de maio de 2015

dia não sei quantos segunda: esquece

E assim vai...continua(va)m a soar as horas da chuva, sair com o carro, ir além, tão bom seria ficar em casa!, mas estava marcado, bacalhoar um bocadinho, mais um dia com nome, desta vez chama-se folga, depois terei lido umas cinquenta páginas de Zona, escrevinhei um poema mental que começava (acho) com um chovia que deus a dava, ou seria o começo de um conto?, de qualquer modo a fartura espraiava-se na vidraça, tocada a vento, um poema da natureza, fiquei ali a dar pensamentos ao desbarato, as árvores a arfarem lá fora, pensei noutro poema, este antigo, as árvores a arfarem como poentes loucos, devo ter sorrido de encontro à janela, tanta água, tanta água, pensei eu, que bem que faria perder-me num comboio como o tipo de Zona, ou melhor, perder-me numa viagem de comboio com esse livro nas mãos, toda a Europa ali, assassinada, a chuva de repente sangue, a sério, paragens em gares com nomes esquisitos, nessa altura o poema iria na parte morríamos todos juntos, /a cada instante /lavrado na insignificância, a morte numa imobilidade de azulejos, a morte imortalizada, e voltar depois à sorte desta vidraça, deste momento, da hesitação entre ir buscar o tal livro em falta, ou simplesmente esquecer...

domingo, 3 de maio de 2015

dia não sei quantos do senhor domingo: firmeza

Depois do flagrante de litro (deixa passar Fernando) fui trabalhar. Depois vim. Entretanto, fui. É isto, quer dizer, basicamente, o cântaro vai à fonte, quer dizer, vai à frente de... o caralho do cântaro, até que deixa de ir, partiu? - perguntam - mas isso é se perguntarem, não faltam para aí cântaros, e fontes, devem ser o caralho dos chineses, eu sei lá, mas partindo do princípio que o dito vai à fonte, depois volta, meio cheio ou meio vazio?, cheio?, vazio?, lá vem ele o cantarito de mochila às costas, é bonito um cântaro de mochila, se é, mas traz alguma merda lá dentro?, trará?, lá vem ele, um dia destes o cântaro vai-te à fronte, depois às vistas, o cântaro diz que faz krav e maga, o cabrão, vai enchendo, aquela cena da filosofia, meter cenas lá para dentro, como se não houvesse amanhã, aquelas pequenas questões entremeadas de um absinto leitoso, a tal carrinha branca do outro lado da rua, cem metros?, mais ou menos, certamente branca, diz que certamente parada, levantando  o olhar da carrinha, ao longe, o ofício das dores, com um cortinado (assim parece) de névoa, a dar as horas da chuva. E assim vai...