sexta-feira, 31 de maio de 2013

dia não sei quantos 330: a chegada a tudo isto


Não foi fácil. Nunca é fácil chegar a tudo isto, já que o tudo isto com o seu semblante poético encapota uma caminhada compactada em pequenos fragmentos, algures entre o tamanho de um alfinete e de um elefante, e é precisamente nesse matizado de possibilidades (visto de fora até parece um tecido em terylene) que se desenrolam os nossos dias que desembocam em tudo isto. Na verdade, a caminhada compactada em pequenos fragmentos, algures entre o tamanho de um alfinete e de um elefante que configura o tal matizado de possibilidades não se assemelha a um tecido de terylene (estupidez, apenas queria meter a palavra terylene a todo o custo), não, a assemelha-se a um padrão, o tal pied de poule, ou de coq (mas há diferenças):


Por outro lado constato que este ano nunca mais largo as minhas adoradas calças de bombazine, não preciso de um meteorologista para me dar achegas sobre o tempo.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

dia não sei quantos 329: o que é que há para hoje?

Que dia é hoje? Ah, quinta-feira, véspera de sexta o tal dia de adiarmos as merdas lá para segunda, bom, hoje temos chá verde com torradas seguido de embrutecimento matinal, a páginas tantas um lampejo de luz, passeata, horas mortas, a merda do gás, reposteiros de época, o Cesário a tiracolo de um pensamento, um poema de memória. A coisa vai. O que é que há para hoje? Temos uma sopa cuja riqueza e frescura se alimenta da transição única do atlântico com o mediterrâneo (ver Orlando Ribeiro), acompanhada de uma sandocha remoçada de paladares intrépidos que pede meças a qualquer olimpo gastronómico. A coisa vai, já estou mais descansado (a fita da parte da tarde será anunciada em tempo oportuno). Vou-me à passeata para ganhar apetite [risinhos]. 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

dia não sei quantos 328: a questão é a seguinte

Temos aí alguma coisa marcada para quarta? Qual quarta? Quarta 29. De Junho? Sim, de Junho caralho, hoje, o que haveria de ser? Calma, não é preciso ofender…bom, quarta…29 de Junho…não, não há nada marcado. Temos alguma resposta às missivas? Deixe ver…huuum…não, nada, nem às missivas recentes nem às mais antigas. Rien de respostas. Tem de ser mais empreendedor [um barulho estranho interrompeu este diálogo por momentos, um som mais ou menos assim ]. Ou isso. Agora vou fazer perguntas àquele senhor para ele perguntar à senhora.

terça-feira, 28 de maio de 2013

dia não sei quantos 327: rapinagem de angústia(s)


O processo de recolha de dúvidas sobre o presente futuro está a dar cartas desde a planície alentejana (começa na serra algarvia) até ao último refugio da água em caso de seca, vulgo Gerês (e além), confesso que não tenho acompanhado o processo de recolha de dúvidas sobre o presente futuro talvez com a atenção devida, derivado a ter que debruçar-me a observar os meus botões e os meus bolsos, num processo de recolha sem dúvidas (leia-se ilusões) sobre o (meu) presente futuro. A coisa poderá ser analisada sob o ponto de vista poético melancólico, sob o ponto de vista filosófico ou até sociológico; a coisa poderá ser observada sob um ponto de vista fodido, mal situado, até mesmo desligado desse vício da honra que nos torna Cães para o que der e vier, mas mesmo aí, no púlpito ramificado de letargias para dar e vender, mesmo aí, vislumbra-se uma frincha indefinida de ar respirável, lá longe, um caralho de um ar que nos apetece abraçar e guardar em frasquinhos com rótulos bonitos e depois mandar fazer cartões-de-visita inalados (deixem passar) com esse ar dizendo: Gerónimo Cão – um animal com aspirações. Aspire com ele.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

dia não sei quantos 326: o caso das segundas-feiras inóspitas

Era uma vez o último livro da trilogia das segundas-feiras inóspitas, cujo autor, uma unidade anatómica completamente desconhecida do Cão, pretende impor a validade das segundas-feiras inóspitas, contrariando dessa forma o adiamento dos projectos das sextas para as segundas-feiras (seguintes). Ora, como sabemos, esses adiamentos são devidamente sancionados pela Associação nacional de projectos adiados de sexta para segunda-feira que, como também sabemos, disponibiliza as ferramentas necessárias para procedermos a uma bom protelação de projectos e afins, de sexta para a segunda-feira seguinte sem qualquer influência no estado psíquico/físico do fim-de-semana. A Associação nacional de projectos adiados de sexta para segunda-feira – sabemos de fonte segura – tem em preparação um aprofundado estudo monográfico (deixem passar) sobre a importância do adiamento, leia-se passagem, de projectos de sexta para segunda-feira, não podendo a segunda-feira respectiva assumir-se como um local/espaço/situação inóspito(s), sob pena de termos de adiar os projectos para outro dia qualquer (terças, quartas?) o que implicará, obviamente, a constituição jurídica de mais uma associação de defesa dos projectos adiados. E como sabemos não há graveto para associações, fundações ou arredores equiparados. Sejam responsáveis!

domingo, 26 de maio de 2013

dia não sei quantos 325: está tudoz...z


zzzzzzZZZZZZZzzzzzzzzzzzzzzzznáuseazzzzzzzzzzzzzlimpezadacasotazzzzzz. Vou sabotar esta merda. Mas está tudo, está tudo: zzzz.

sábado, 25 de maio de 2013

dia não sei quantos 324: ponto de interrogação

Pelo lado onde não existem saídas? Acho que foi o Bolaño que o escreveu mas sem o ponto de interrogação, já não sei bem, mas fica com o ponto de interrogação. Também ia escrever, teclar, que fodido dos cornos também se lê não estou calmo, mas fica assim.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

dia não sei quantos 323: Well I wonder

Posto isto, mais se informa que até onde alcança a vista nada de novo: alguns sonhos aos trambolhões, alguns projectos consoante o vento, deu-lhe hoje para a nortada, amanhã, quer dizer, lá para segunda poderá ser do oeste, nunca se sabe. Ficamos à vossa disponibilidade para qualquer informação adicional.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

dia não sei quanto 322: telegrama


Não me deu logo para fazer alguma coisa. Depois fui correr. Por aqui vamos indo. Vamos vendo. Logo que é agora vou escrever isto. Fica feito. Tem que ser. O resto da tarde já se sabe: ler, flanar, pensamentos a andar de mota, remoer o biscate técnico adiado, comer uma maçã, adiar projectos, enlouquecer devagarinho, não tarda lerpar uma cerveja. Rapinar alguns sonhos. Ponto.   

quarta-feira, 22 de maio de 2013

dia não sei quantos 321: a breve coisa


Acordei cedo e amodorrei. Mas por pouco tempo. Subi a ladeira até à unidade de cuidados de saúde maior que o campo de batatas com hortaliças do Paços de Ferreira (local onde supostamente se acolhe a prática do futebol), isto acompanhado de pensamentos cujo conteúdo daria para a edição de umas obras completas do Cão sem este ter escrito uma única linha. Deve ser a linha de pensamento – terei pensado (deixem passar), mas já estava envolvido num combate de morte com as todas as frinchas conspirativas que envolvem os vários universos (ver Fringe), quando tal, já descia num veículo motorizado com o sol a esquadrinhar as suas entranhas luminosas, talvez para nos lembrar que está velho mas dá para mais uns anos. Nada contra – pensei, já sentado na esplanada. Aqui também, ou melhor, como diz o Borges: Aqui também. Aqui como no outro / Confim do continente, o infinito / Campo onde morre solitário o grito. E lá mais para a frente: Aqui também essa desconhecida / E ansiosa e breve coisa que é a vida. E o melhor veio depois. 

terça-feira, 21 de maio de 2013

dia não sei quantos 320: como um cão sem osso


É só um segundo que vou escrever uma carta de representação, actualizar o CV com os cavaleiros na tempestade, deixem os putos brincar, vou imprimir as cenas, arranjar um envelope jeitoso, eu já venho, não tarda nada…pronto já está, quinze minutos de preenchimento do dia. Não tarda lá vai o Cão ao correio investir em mais uma carta registada sem aviso de recepção, vai sem aviso de recepção, vai com disponibilidade para viajar, vai com formação e experiência compatíveis, vai com boa capacidade para ter capacidades boas sem que isso tenha qualquer relevância, vai disposto a integrar-se numa equipa jovem de acordo com as capacidades demonstradas na remuneração em constante desenvolvimento profissional. Vai para o caralho. A rádio hoje toca para o Manzarek.  

segunda-feira, 20 de maio de 2013

dia não sei quantos 319: o mundo não está feito


Acordei assim e acordei assado, depois abri as persianas e fiquei em banho-maria. Deu-me para ler enquanto aquecia a água para o chá, recordei Hemingway em “O velho e o mar”, o homem não foi feito para a derrota, pode ser destroçado, mas não derrotado, estava a ler outras merdas mas lembrei-me de imediato de Primo Levi, e a páginas tantas escrevi qualquer coisa no caderninho vermelho. Lerpei o chá verde e fui-me a uma torrada em pão de ontem daqueles pães à la minute, ainda não vi o caralho dos golos de ontem do Sporting – terei pensado, enquanto me arrastava nem derrotado nem despedaçado, algo de intermédio, pilar da ponte de tédio (deixa passar Mário). Entretanto acabei a limpeza da casota, duchei, agora acho que vou latir para outra freguesia, nem tanto ao mar nem tanto à terra. 

sábado, 18 de maio de 2013

dia não sei quantos 317: um imenso nada


Após dez horas e picos de sono contínuo… continuei (deixem passar) a dormir acordado durante pelo menos mais trinta e cinco minutos, o que perfaz umas boas onze horas de sono mais ou menos, acto seguido deu-me para ler uma merdas enquanto acordava, tudo somado umas boas doze horas já a contar com o pequeno-almoço encaixado (risinhos). Doze horas já foram – terei pensado, enquanto me recusava na plenitude dos meus direitos a acordar completamente para o mundo, isto já agrupado aos backups que fazia por obra e graça de automatismos que concorrem diariamente para a perda de informação, são pastas sobre pastas, localizações a informarem de localizações, pastas que contêm elementos supostamente indicativos de outros elementos localizados noutras pastas, caderninhos expostos aos elementos, outros caderninhos explicando a exposição dos caderninhos expostos aos elementos, ou o caralho, tudo somado, um imenso nada. Não tarda estarei a merdar na mercearia, parece que é preciso leite.  

sexta-feira, 17 de maio de 2013

dia não sei quantos 316: o longe possível


Por falar em boas latidas, deu-me para bater o território à chuva, latindo in the rain, por assim dizer, fui-me ao longe possível e depois dei a volta, um cão pode fazer isto durante horas observando as unidades anatómicas humanas ora a correr para apanhar o autocarro ora a correr para não apanhar o autocarro, ora a caminhar abanando os braços, não, não, isso fica para mais logo, algumas unidades anatómicas não levantam a peida para nada e depois vão caminhar abanando os bracinhos, ou o caralho. Mas não senti nojo, os cães ao contrário das unidades anatómicas humanas não sentem nojo e até ficam de certa forma admirados com a aquela expressão humana: até metes nojo aos cães, porque isso não é de todo possível, embora se registem mudanças genéticas significativas em alguns cães, denominadas (por mim) de genética de recluso, isto é, estão cada vez mais humanos, mas ainda assim não demasiado humanos no sentido que o Nietzsche descreveu com segurança. Bom, vou ver da rádio pirata, mas como hoje é sexta devo adiar o projecto para segunda. Até. 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

dia não sei quantos 315: o projecto é alienar toda a gentezzz


Zzz:
a culpa poderá ser do queixume, inibindo a capacidade para meditar no problema, amiúde as causas revelam-se ao mesmo tempo consequências, com os resultados que se conhecem, sobretudo nesse monopólio de afectos que reportam apenas ao jogo da bola com os pés, vulgo clubismo dos outros, repare-se que nem sempre as amostras revelam a sabedoria do todo, repare-se ainda na beleza de outros jogos em a que a bola se joga com as manápulas, mais belo?, certamente mais fácil, não lembra ao diabo a bola jogada com os pés, a não ser a esses vilipendiadores gourmet, vulgo canibais, e outros que tais (embora com carnes diferentes) na planície do grande Khan que jogavam com cabeças, mas alguns iam a cavalo. Posto isto, merdas que nos compõem a ordem cerebral, celebra o Citati que: a fantasia dos artífices nómadas gosta de grupos, de combinações, de densas e inextricáveis composições de massas. Trata-se do génio animalista dos Citas. Por exemplo.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

dia não sei quantos 314: não importa qual


Mesmo cheiinha a alegria é boa. Acabadinha de chegar, fresquinha. Dei comigo a pensar nisso logo pela manhã. Nove horas e quinze minutos (juro!) já estava a remoer a lição da aula anterior, não quero aprender mais nada – diz o Vasco Santana –, já estava a repensar as tácticas para a época seguinte enquanto a persiana oferecia apenas duas alvíssaras à luz. Está mais frio, devo ter pensado prosaicamente. Deu-me depois para ler e para escrever no notebook, no caderninho vermelho (apenas suporto o vermelho em cadernos), gosto muito mais de escrever à mão, com a caneta (e a lápis e a esferográfica), gosto do cheiro a papel, embora o papel de hoje mais das vezes não cheire a nada, é asséptico, mas este tem cheiro, tem solidez, gosto da mistura do cheiro do papel com o cheiro (deixem passar) a tinta ou a grafite, gosto do cheiro dos livros misturado com o cheiro do chá, melhor do que isso só cheirar o silêncio das catedrais e de algumas igrejas pequeninas, românicas, despidas ainda do frenesim gótico e por aí fora até ao barroco. A páginas tantas terei tomado de golada algumas decisões, ia a manhã alta, fresquinha, acabadinha de me receber sem grandes interpelações, o Cão já a sair (agora estou fora de mim, deixem passar), aperta o casaco, desce a ladeira, desta vez com uma direcção. Não importa qual.  

terça-feira, 14 de maio de 2013

dia não sei quantos 313: a mancar da cabeça


Hoje não carrego nenhuma muleta literária sociológico filosófica, um amigo do Cão costumava (ainda o fará?) carregar a muleta da sede, muito proveitosa para naufragar, às vezes ainda escutávamos as borbulhas do naufrágio enquanto andávamos sem destino nenhum. Não, tardo… e trago o tédio da ausência de trabalho, da degenerescência da disciplina, diferente daquele tédio literário, o L’ennui, ou isso, acho até que este tédio tem cor, é branco, escorre como plumas brancas pelas paredes, muito conveniente para nos enlouquecer. Recuso-me, leio, vou correr, não vou correr, vou flanar, esgaço uns biscates técnico, onde estão os biscates técnicos?, bebo umas cervejas, por falar nisso, também posso fazer outras coisas, o Cão já fez tantas coisas nas vida, recuso-me, tanto afastar esse rumo ao bolor, sinto saudades dessa elegância da alegria. Mesmo cheiinha a alegria é boa. 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

dia não sei quantos 312: a curva opulenta dos sentidos [risinhos]


…Tivemos que modificar o conteúdo desta posta já com a vertigem da última hora. Não explico. Isto é, o Cão esqueceu aquele início enigmático sentido por volta das dez horas e picos da manhã, o mesmo início enigmático que ele julgou que se recordaria mais tarde, isto após uma transumância de pensamentos, após o desenjoo e da corrida com fôlego de passeata, da volta da ida, da ladeira, o Cão saberia com certeza dar a devida sequência àquela ideia. Sucede que o Cão não se recorda nem vagamente da puta da ideia, da coisa, da cena, teria sonhado? Para mantermos o nível das postas, tivemos que recorrer ao George Steiner que escreveu: se fitarmos o medonho com demasiada insistência, acabamos por nos sentir insolitamente atraídos pelo medonho. Obviamente que isto serve para outros fitos e outras observações (deixem passar), mas o título do ensaio é lindo em qualquer lado, chama-se “No castelo do Barba Azul – algumas notas para a redefinição da cultura”. Estamos salvos.

domingo, 12 de maio de 2013

dia não sei quantos 311: conquistai as profundidades a ironia não desce aí*


Era para ser um ZZzzztónico com cama de gelo e limão, mas depois pensei no jogo, nesse disputadíssimo jogo de uma vida ontem com o olhamestes de Olhão, soletrei mentalmente pedaços de toda a competição ou ausência desta e cheguei a uma frase do Vila-Matas: a ironia é a mais elevada forma de sinceridade

[*escreveu um dia o Rainer Maria Rilke]

sábado, 11 de maio de 2013

dia não sei quantos 310: o desafio, perdão, o vazio opaco (deixem passar)


Comecei por pensar nisso: as possibilidades. Encontrava-me refastelado na cama e as possibilidades por ali andavam, uma, duas, três, quatro, cinco bem vistas as coisas, cada uma isoladamente (deixem passar) assemelhava-se estranhamente à peça de um puzzle, mas não seria de todo correcto observá-las à luz puzzleniana de um Peret ( a cena do desafio opaco), porque cada uma destas projectava um caminho independente das outras, independente até do conjunto. Pareceu-me. Estranhamente, neste caso, o todo (seria o todo um conjunto de peças?) desfazendo-se não se configurava em nenhuma das peças, quer dizer, das possibilidades. Foda-se, ou o puzzle está mal feito ou nunca existiu. Inclino-me até cair para a segunda hipótese.Entretanto, antes de ir à mercearia, estive a ler esta carta. Parece-me que o país do Cão é uma daquelas fotografias postais, pôr-do-sol, contraluz, linha do horizonte, cliché, antes fosse uma fotocópia a preto e branco, ou um reflexo embaciado ao espelho, mas com menos vazio lá dentro. 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

dia não sei quantos 309: ponto alto do dia


Fui correr. E ver do jornal da forma esquisita do costume.

[na volta, um gato pequeno de roupagem listada tentava afiambrar um pássaro, gorados os seus intentos, a medida eficaz que arranjou para disfarçar foi bambolear-se ostensivamente, desenhando sinuosidades de trazer por casa, e à minha passagem não se quis pronunciar, falei-lhe do Incrível, cheirou-me em jeito de cumprimento, assim, com o focinho levantado fazendo um ligeiro arco]. 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

dia não sei quantos 308: o olhar pensado


Entretanto fiz copy paste de mim mesmo e fiquei  a olhar-me  a subir a ladeira, na primeira curva à esquerda a coisa ainda foi, depois pumba subida à direita, eu que observava o meu copy paste nessa segunda curva à direita com subida fiquei orgulhoso da impetuosidade daquele elemento anatómico que, formando um conjunto aparentemente sólido, criava sinuosidades muito fodidas no meu olhar, mas mantive a calma e a receptividade. Na recta da minha meta visual, o conjunto aparentemente sólido daquele elemento anatómico ficou parado a fazer uma espécie de transbordo de pensamentos, não hesitei e nesse momento tive que roubar parte do olhar do meu copy paste (é possível hoje em dia) e parte da mioleira que regista as merdas vistas pelos olhos do elemento anatómico, aquele mesmo que agora se deparava com uma unidade de cuidados de saúde maior que o campo de batatas com hortaliças do Paços de Ferreira. O elemento anatómico estacou.  Pensava (eu podia ver isso), naquela gente toda a entrar e a sair daquele corpo que cuida de corpos, unidades anatómicas fodidas, algumas acompanhadas de unidades anatómicas aparentemente em bom estado (mas por quanto tempo?), ao mesmo tempo que pensava no jogo (como seria possível?) do passado fim-de-semana num campo de batatas com hortaliças. O conjunto deste olhar pensado não era nada bonito. Após a descida não trocamos grandes impressões. 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

dia não sei quantos 307: também digo


É que os livros são por caso o único artigo em que sou mais rico que os meus vizinhos, escreveu um dia De Quincey, [na sua introdução aos tormentos do ópio], estava eu a ler isto, pausadamente, mas carregando uma irritação cujo canastro media forças com uma daquelas grandes penedias que se podem observar no Gerês, quando escutei: e olha onde isso te levou. Lá fora um pássaro cantarolava protestando uma felicidade sólida pese um céu plúmbeo, [estava a ver que não conseguia meter esta aqui] fechei a porta e por momentos, apenas uns breves instantes, um sorriso mordeu a minha face. Depois fiquei a ruminar o biscate técnico. 

terça-feira, 7 de maio de 2013

dia não sei quantos 306: reavaliação do produto


Amanheceu cedo para estes lados: abandonei o beiral soturno e fui-me a um chá verde com torradas feitas naquele pão que chega embalado dentro de um saco, como os putos transportados pelas cegonhas, devidamente fatiado, homogéneo e com a genética toda fodida, chama-se pão, alguns dizem que é rico outros meio bimbalhado, mas no final o que conta é a manteiga, tem que ser manteiga. Encaixei seguidamente a fronha no reservatório de informação literalmente (in)dispensável, respondi a dois anúncios de (des)emprego, carta de representação, vitae fortíssimo, aiaiai quem escorrega também cai, pensei em reavaliar o vitae em grande, urdir informação, ser criativo, empreender merdas ao mesmo tempo que vou inventando a informação a expensas da criatividade, quando a páginas tantas cheguei ao sushi cycle, ou isso. A partir desse momento nunca mais fui o mesmo, pelo menos até agora, e já passaram umas duas horas ou mais.
                                                                                                  




verymotivationalaiaiai

segunda-feira, 6 de maio de 2013

dia não sei quantos 305: vai de balada


Todas as semanas, não, toda a semana de segunda a sexta como dizia um amigo do Cão, um amigo perdido já na penumbra da memória, toda a semana de segunda a sexta (deixem passar, o amigo iria gostar) sinto os dias um a um, já começo a estar naquela fase da época em que a estática se confunde com o altifalante do vizinho e começas a sentir as horas, uma a uma, depois já se sabe, começas a sentir os minutos um a um e logo a seguir o caralho dos segundos um a um, e já não fazes outra coisa senão sentir, às tantas estás a ouvir cada batida do coração, tumtumtum, uma a uma, e os dias tornam-se merdas que te entram pelos olhos dentro e acabas por ser uma personagem da tua vida vivida e sopesada (um dia deste faço parágrafo, não se preocupem) em que te vês de fora e fazes parte do elenco, os olhos abertos, sempre abertos, como aquela cena do Laranja Mecânica, até que essas imagens te metamorfoseiam numa cena parecida contigo mas sentigo, como diria o João Pinto. Não sei se ainda estou naquela cena da semana de segunda a sexta ou se já tirei bilhete para contar as horas, mas sei que tenho de fazer alguma coisa para que os dias sejam aquilo que sempre foram: dias, ao calhas, eles estão lá mas tu não tens nada com isso, vives e acabou.    

domingo, 5 de maio de 2013

dia não sei quantos 304: não esquecer

[aconteça o que acontecer nunca desistir, antes quebrar que torcer; o conselho em forma de enigma do Nietzsche: Se queres que a corda não se parta, então, primeiro rói-a.]

sábado, 4 de maio de 2013

dia não sei quantos 303: compreendido!


Estava a pensar nisso, ainda agora um flash no reminiscênciamortatv (às vezes vejo cenas do catano no reminiscênciamortatv), aquela conversa do Vasco Santana com o (filho) Ribeirinho no Pátio das Cantigas, isto após a cena do candeeiro, o Vasco pede-lhe para não lhe ralhar, que está doentinho, que passou mal, e isto e aquilo, o Ribeirinho diz que o pai é um menino, que tem de fazer isto e aquilo (deixem passar) e às tantas o Vasco diz: não quero aprender mais nada, com um ar malandro de deixa-me estar, ao mesmo tempo português como tudo e ao mesmo tempo completamente extraterrestre como tudo, uma frase lápide (não confundir com lapidar) cujo conteúdo é um autêntico himalaia de ruminações possíveis. Entretanto estive a ler uma cena qualquer do Llosa e outra do Lipovetsky, agora vou ver da sopa e do post-it de ontem.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

dia não sei quantos 302: post-it


- Adiar alguns projectos para a segunda [mas quais projectos?];
- Ver como alimentar o biscate técnico não o deixando chegar ao tutano;
- Dar umas voltas, flanar, espairecer a mona;
- Ver os classificados e os desclassificados em vários formatos;
- Aproveitar a deixa e ler mais merdas, mesmo bulas de medicamento;
- Fazer uma auditoria de gestão para apurar cenas;
-Fazer um levantamento dos últimos projectos e seu estado de putrefacção [independentemente da primeira alínea];
- Listagem de telefonemas e cenas importantes para a próxima semana [importante]; 
- Pensar numa vida mais disciplinada e desportiva(?) com menos fumarada, ou isso;
- Começar uma ode à vida em verso livre de todas as contingências que a possam minar na sua alegria intrínseca e na sua virtude, ou ausência desta;
- Preparar e temperar o coelho para o jantar [uma homenagem ao bicho e ao paladar];

E é já…


[és um smith?]

Imagens do coelho ainda não disponíveis, mas já estamos em contacto com vários artistas nesse sentido, a arte acima de tudo. Agora vou ali comer uma torrada que me esqueci. 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

dia não sei quantos 301: no mesmo espaço


Entretanto…olha, pensei que hoje era segunda-feira, teria que reavivar a cena dos projectos, afinal é quinta, menos mal, dia de banho-maria até sexta, dia de adiamento (deixem passar) de projectos para segunda, a segunda seguinte. Em seguida, numa sequência cuja rotina muito deverá a contingências projectadas por espelhos, em que tudo se passa da mesma forma (de sempre) dando ao mesmo tempo a ilusão que estamos num camarote a assistir um concerto de música clássica, deu-me para martelar mais uma hora de cama até as articulações fazerem a dança do põe-te a pé. A dança do põe-te a pé é mais ou menos assim. Depois fui-me à poesia e li: Ambiente da casa, dos cafés, do bairro / que vejo e que percorro: ano após ano / Criei-te de alegrias e tristezas / de tantas circunstâncias, tantas coisas. / E já não és senão como te sinto. Isto tudo no mesmo espaço, uma cena Kavafi. 

quarta-feira, 1 de maio de 2013

dia não sei quantos 300: a estiva e o princípio da estiva


Estava a ver que não, ó pá tive que ir ao mar, passei na praia, espanquem-me, teve que ser, ó pá espanquem-me, tinha ficado a pensar na sílica, nos minerais, nos bichos mortos, nas pedrinhas, lembrei-me logo dos passeios do Beckett na Irlanda, caminhadas em terra e no mar, nadadelas, depois tive que me fazer a um hambúrguer fatela, o sol a bater, mas do árabe do Camus nem sombras, uma cerveja fresca, rochas, pedra, o mar por ali dentro. Mas como um dia escreveu Beckett, não basta numerar as pedras, e sentado na areia (seria Molloy?), diante do mar, as pedras espalhadas, contemplava-as com raiva e perplexidade, pensando quando poderia atingir os seus objectivos, sem aumentar o número de bolsos, nem reduzir o das pedras, simplesmente sacrificando-se ao princípio da estiva. Depois explico.