segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

dia quarenta e seis

Ando uma pilha de nervos num pote de nervos, ensopado de “supostas” coisas, propostas indiscutíveis e mudanças de vida porque “tem que ser”. Não aprecio o deslizar de calças para baixo a não ser que esse movimento seja acompanhado de outro igual, proporcionado por um ser humano do outro sexo e, para que conste, do natal sempre achei aquela merda que o Inútil escreveu hoje: fuck Christmas, I got the…; em Coimbra, vai para uns anitos, era got the Blues, hoje, algures, não pode ser got qualquer coisa

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

dias quarenta, quarenta e um e quarenta e dois

Algures na terra santa, com conversas sobre especulação financeira –juro!- , livros novos, ainda nem sei bem quantos e algumas medidas profilácticas a propósito também não se descortina muito bem de quê. “Urge pegar no carro” – dizem-me- . Enquanto não me passa a ressaca, enfrento mentalmente estas festas de consumo e divertimento obrigatórios. Fui. 

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

dia trinta e nove: alegria breve?

E foi assim que, depois de um breve passeio, chegado finalmente a casa, ainda atordoado sabe-se lá bem porquê, recebi um estranho telefonema e, pouco depois, abrindo um livro novo lia-se logo na página inicial que era a oito: “Esperou um momento, como se reflectisse sobre alguma coisa, sem dúvida bastante irrelevante, depois premiu o botão da campainha eléctrica e chegou alguém para lhe abrir a porta, a criada ao que tudo indicava. «Sou o novo empregado», disse Joseph, pois era assim que se chamava”. Fechei o livro “O Ajudante” de Robert Walser, e saindo pela porta para o terraço, ou pátio, fiquei especado à espera. 

domingo, 20 de dezembro de 2009

dia trinta e oito: antevisão a despropósito.

E depois de uma comissão de serviço, o mártir descansa o corpo no armário dos fundos. Daí não se vislumbra o presépio, é sabido, mas uma luz ténue desagua na frincha da porta e é sempre possível descortinar os movimentos da casa em silêncio, enquanto os aromas antigos que se destilam da imaginação fazem o seu trabalho: doces, fritos, soleiras, alpendres, fogões a lenha e um quintal, para dizer pouco, assolam cada momento. E depois, a manhã, a tarde, os pequenos ruídos avulso. A casa antiga. 

dia trinta e oito:a caminho da glaciação

Noite e manhã geladas: os montes, ao longe, recortados no céu azul, empoados de construções graníticas que se assemelhavam, pelo menos pareceu-me, a silhuetas fantasmagóricas…

[Ontem, dia trinta e sete, registei: uma rã passa um rio de nenúfar em nenúfar e, repentinamente, talvez a meio da travessia, deixa-se simplesmente ir com a corrente. 

Ps: Foi um dia frio, trespassado à força por uma caminhada, compras para o jantar a correr e um peixe grelhado acompanhado de um tinto maduro que me aqueceu momentaneamente…]

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

dia trinta e seis..............

Enquanto a temperatura descia eu estive quase para ler o jornal, quase para ler um livro e prestes a encetar um projecto digno de registo, a começar na próxima segunda ou no próximo ano, acabando tudo por degenerar numa caminhada ranhosa pela cidade, praticamente sem paragens e com alguns indícios de desorientação geográfica e emocional. Não comprei nada, pelo menos nada que possa confidenciar, e enquanto me agarrava a mais uma liana neura recebi dois telefonemas de uma assentada que me confortaram o espírito e proporcionaram uma rara libertação de serotonina ou o caralho, para logo mergulhar num profundo e exaltado marasmo oficioso. Mas aí já estava na livraria.

[hoje nem uma comissão em part-time:nadinha]

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

dia trinta e cinco

Mas ainda gosto dos dias, ai se gosto, quase todos, mesmo que nunca tenha comissões de serviço em dias seguidos, ou sequer uma comissão de serviço que me ocupe um dia inteiro, mas neste caso, por vezes, é difícil de definir, já que o mesmo dia pode encaminhar dois ou três trabalhos diferentes, com graus de dificuldade absolutamente contrários e, até, tarefas contraditórias, ora viajando pelo lombo mais físico, ora intelectual. Por isso, ou talvez nem tanto por isso, aprecio caminhadas sorrateiras pela terra dos trabalhos dos outros, mais ou menos visíveis e especificados para quem quiser enxergar, assim como um David Attenborough da vida moderna citadina, acho, ou urbana, acho, e ainda assim encontro sempre as mesmas tabuletas nos lugares certos a horas certas. Hoje, prato do dia: entrecosto assado com arroz; filetes de pescada; e um outro que já não recordo. Na terça-feira, lembro-me bem, ali à esquina: tripas à moda do Porto, Cozido à Portuguesa e outro. E o peixe? Vou começar a registar.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

dia trinta e quatro: acho

Simplesmente voltou a chuva para nos empacotar em rodilhas humidificadas até aos ossos. Nada mais fácil: sair de casa e seguir viagem a nenhures, mas sempre com aquele objectivo em mãos, já a insinuar-se, juntamente com aqueloutro que conspira silencioso em todos os finais do ano, e que, dessa forma se aproxima de uma gigantesca sexta-feira que tudo ilude e projecta para a próxima segunda. O ano novo. Sinto-o.

 [ps: dia quase cheio e mais ainda sem oportunidade de jogos, leituras e loucuras por aí além;

ps2: que merdas comprar com pouco menos que dinheiro?, oh já sei, já sei, ser imaginativo..como se alguém...] 


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

dia trinta e três: náufrago

Que noite, fiiuu, como se lê nos romances do Dostoiéwski, ou será como se diz?, mas adiante, que noite, que funduras, o corpo a manifestar-se independentemente da minha vontade, e por partes, o cabrão, cada uma delas autónoma e sorrateira, mas estabelecendo combinações, dir-se-ia, de forma aleatória, mas capazes de subjugar qualquer tentativa de não perturbar ninguém num raio de 150 metros. A natureza é fodida. Mais tarde, na baixa mar, dei à costa, entre penedos com saudades de mexilhões, numa praia mesmo assim quase sem areia, e percebi, se percebi, que tudo aquilo que escutamos durante a merda dos dias, por exemplo, na televisão, ou nos livros, e até mesmo naquelas conversas inimputáveis à razão, podem ser usados contra nós nos sonhos ou naquelas planícies de vigília indistinguíveis daqueles. Quando dei à costa, alguns livros de aventuras, e aquela treta do aquecimento geral, perdão, global, da terra, já lá estavam, às minhas custas, mesmo sabendo-se, também ouvi qualquer coisa sobre o assunto, que caminhamos para uma glaciação. Esta noite foi a prova disso.

[ps: coisas podem acontecer durante o dia relativas a novas comissões de serviço]

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

dia trinta e dois

Acordar cedo e gelar enquanto aqueço o chã, voltando logo a seguir para o recinto dos lençóis e cobertores, com o jornal à vista e alguns livros e apenas um braço de fora, o que torna tudo tão impraticável…penso (pensava) como vai ser?, caminho em círculos, em círculos, prestes a morder a cauda, nem sequer é um labirinto antigo, ou um conto do Borges ou do Calvino....Nem sei bem o que escrever enquanto assoo o nariz. Não é uma imagem bonita, isso não.

sábado, 12 de dezembro de 2009

dia trinta: de tarde

Uma tarde quase, quase boa; não fosse o diabo tecê-las, começou-se logo por partir para o monte, um monte pequenino, com coisas antigas e árvores, oliveiras, por exemplo, e pinheiros mansos, outro exemplo, onde a luz se redimia em feixes que pareciam aquelas cenas do laser que se vêem agora nos estádios da bola, onde camadas e camadas finíssimas de luz, acompanhavam esses feixes e, tirando algumas partes queimadas, dir-se-ia que estávamos numa espécie de éden de trazer por casa. Logo aí, nesse ponto nevrálgico, se entremeou a realidade, e deu-se mesmo o caso de se ter que fazer umas compras lá mais para baixo, já estava o sol mais para oeste que outra coisa. Sem mais.
Depois, o devaneio do jornal, com as figurinhas típicas a esquadrinhar a bola enquanto eu tentava ler os classificados e um velhote cuspia para as mãos não fosse o caso de as folhas colarem. Os seus classificados eram outros… 

dia trinta: de manhã

Acordei bem. Ontem é que acordei sem saber em que raio de rua ficava o Canadá. Hoje acordei bem, mas não me recordo de nenhum sonho embora saiba muito bem que me fartei de sonhar e sonhar, e até já estava naquela fase de agarrar o sonho, sabendo perfeitamente que estava a sonhar e deixava-me ir, segundo creio, mas não me recordo de nada e não está por aqui a Mariana, a filha do ferrador no Amor de Perdição para ter pressentimentos e reconhecer presságios. Bem, depois não me restava alternativa, senão levantar a peida, dar de comer aos animais e preparar a limpeza da casota. Meti logo um disco antigo dos Young Gods.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

dia vinte e nove

Passeio nos dias incólume e arrumo uns papéis enquanto desperdiço qualquer coisa que deveria estar a fazer e não o faço. Continuo a arrumar papéis, agora com o sol a esvair-se à minha direita e ainda sinto na boca um docinho a chocolate Nestlé clássico no preciso momento em que escrevo clássico. Recordações e muitos aspectos técnicos assomam dos papéis: desenhos, notas, entradas de um diário, restos de investigações. E uma lista de 2006 que dizia assim:

Numa lista de bolso. Duas listas no bolso.
Compras de mercearia:
Vinho, especiarias, leite, fiambre, água, cerveja, amêijoas, carne de porco, coentros
Compras de livros:
Blade Runner - Philip K. Dick, As Cidades Invisíveis - Italo Calvino
 
E mais à frente leio que, por essa altura, as leituras rondavam Blase Cendrars e Stevenson, e embora não consiga localizar o mês exacto, convém salientar que o ano, todo esse ano, foi de trabalho intenso no geral e no particular sem direito a fins de semana e tudo. 2006. Não confundir com 2666 do Bolaño. 

 [ps: hoje não me parece sexta-feira, talvez porque têm sido muitas, ou talvez porque hoje não fiz planos para a próxima semana]

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

dia vinte e oito: parte da tarde

O sol insinuava-se em estranhas geometrias entre as casas, e mais além, no monte, acabando por tudo agasalhar numa luz amarelecida que, ainda assim, terá durado tempo mais que suficiente para nos regozijarmos com discrição. Não foi isso que notei quando caminhava, vindo de mais um part-time consolador. Sempre os mesmos rostos apressados, aparentemente diligentes aquando de uma paragem com alguém conhecido, ou na frente de uma montra com motivos natalícios. Evitei, na volta, o centro comercial, mesmo necessitando de umas coisas nada importantes, e continuei acompanhado, a pé, ou nos transportes, pelos mesmos rostos velados numa alegria de fancaria, sempre ocupadíssimos, esses corpos que carregam o rosto, ora em conversas climatológicas, ora expondo o seu telemóvel, ora observando as montras e as luzinhas que se adivinhavam no crepúsculo próximo…  

dia vinte e oito

Abro a janela: sol. Leio qualquer coisa.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

dia vinte e sete: tentar recordar

Ontem, dia vinte e seis, depois de um certo work part-time, e um repasto idílico, seguiu-se-lhe uma instigação alcoólica que me levou a pensar que [ontem] por estes dias ainda consigo velar pela minha saúde em dias de final de festa quando todos os outros se remetem ao silêncio mais soturno, à raiva pendurada na insónia de quem galgou três ou quatro dias de mini-férias. Odeio minis; sejam elas cerveja ou férias, ou ainda carros, ou pedaços de carne. Comprovei e atesto que, como outrora apreciava as saídas às quintas e domingos, por estes dias de paisagem monótona, quase só saio quando mais ninguém o faz e, aparentemente sozinho, até chegar ao local. Cada vez mais, caminho para a solitude de uma viagem a Issenheim para ver as pinturas de Grünewald.

[ps: hoje, acordei e levantei-me da cama e banho e pequeno almoço e escrevi as linhas acima]

domingo, 6 de dezembro de 2009

dia vinte e quatro...

Passei o resto do dia a tentar recordar os restantes 75% do sonho.

[Ps:ainda trabalhei qualquer coisa em part-time…e agora Cat Power]

dia vinte e quatro: 25% de um sonho

Hoje tive um sonho em que encontro um amigo meu num bar, um amigo que já não via há muito tempo, estávamos sentados lado a lado e eu não o reconheci logo. Depois bebermos e conversamos. Mais tarde, chegado ao (mesmo?) bar, por caminhos insondáveis que só me fazem evocar o Metropólis do Fritz Lang, e cenas do Giger, esperava-me um sujeito também ele conhecido, acho eu, que de repente se me dirige e diz “estava mesmo à tua espera, vamos lá mudar o tubo”. Esta cena tem mesmo cenário concreto na minha vida irreal, e eu respondi, meio surpreso, que por dez euros ainda podia ser, já a contar com o material, mas ele avançou 25 euros, ou nada feito, e estava-se mesmo a ver que não esperava uma nega, mas eu lá disse que 25 euros, dada a conjuntura actual seria muita massa, mas “amigos na mesma”, e o gajo já de costas, de costas, disse “amigos o caralho”. Nesta altura o cenário era indescritível. 

sábado, 5 de dezembro de 2009

dia vinte três...

Escurece…já escureceu. Nada de relevante a assinalar, a não ser talvez um telefonema onde me fartei de não ouvir, ou fazer que não ouvia, é muito fácil hoje em dia; vais no carro?, não tens rede?, estou-te a perder…não te ouço, não, estou em casa, sim estou em casa, não percebo como é que alguém poderá controlar alguém com as alegadas novas tecnologias, é a mesma coisa que esperar que o pombo fale. De qualquer forma pode-se sempre ter 2 telemóveis, vários cartões, tirar cursos de ventríloquo ou, na dúvida, trocar de telemóvel quando cheira a esturro, como aqueles senhores de fato e gravata na televisão.
De resto, leituras. 

dia vinte e três

Acordar: 9h45m;
Levantar (ir buscar pão): 10h15m;
Se não fosse um desses sábados tresmalhados este teria sido record pessoal nacional do ano.

[ps: ainda chuva; Tchaikovsky avulso na rádio]

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

dia vinte e dois...

“It’s the butterfly man, you now. He comes round here quite often”, havia lido. Essas futuras ruínas: frases proferidas no alpendre de um hospício, onde alguém jornadeava, segundo creio, para o esquecimento e a aniquilação da memória, a passos rápidos, e eu entrelaçando o livro de Sebald com outros livros e as minhas próprias recordações, quando ao observar um dos bonecos de peluche com quem partilho a biblioteca, decidi-me por sair, a ares, desculpando-me, logo aí, pelo adiar de uma lida académica, e de uma outra entretanto esquecida…

dia vinte e dois: everyday is like friday

Acordar, levantar: já está. Às vezes fico com a sensação, principalmente às sextas, mas não só, de que todos os dias são sextas-feiras, onde após um breve período de descanso, qualquer coisa irá acontecer lá para …segunda e assim sucessivamente, nada que o Morrisey não tivesse já pensado, com chuva e tudo, mas no que toca a domingos: everyday is like sunday…

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

dia vinte e um

Até agora, mesmo depois duma revoada de pensamentos enquanto caminhava, nada assoma de autêntico e compreensível. É certo que a emoção palpitou a espaços, nada aclarada mas sujeita à angústia da música que corria nos auscultadores, com reminiscências a vigiar cada pedaço de terreno calcorreado, e livros, e árvores a assaltar cada um desses momentos, culminando numa poça, num charco de ausências, onde já não se materializa nenhuma estória, nem ao adormecer.
[ps:algum trabalho em part-time, Camilo Castelo Branco e algum whisky – a decorrer]

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

dia vinte: uma lista full

Cito de cor a lista de trabalhos e serviços prestados nos últimos anos em part e full time:
Explicador; balconista; centro comercial: diversos; investigador; executante de trabalhos académicos para outrem; distribuidor de publicidade; estudante pós graduado; barman; vendedor; dinamizador de eventos; técnico inferior e superior; letrista sem banda; empreendedor de ideias. Registe-se, apenas para que conste, que vários trabalhos me foram recusados, ou ignominiosamente não correspondidos, por razões totalmente alheias à minha pessoa; decisões baseada, segundo creio, em preconceitos, em mal entendidos, ideias preconcebidas e a mais pura ignorância. Ainda recentemente desejei, de forma inflamada, ser distribuidor de gás ao domicílio. Mal interpretado, ainda concedi, ressalvando a necessidade de um trabalho, primeiro, e depois de algo físico, algo sem vertente aplanada intelectualmente. E em full time.

[ps: algumas leituras - os técnicos Ascher/Choay e Sebald]

dia vinte

Ontem dia dezanove: foi daqueles que nos remetem para a integridade de um empregado em part-time. Hoje acordei desempregado em part-time.