segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

dia quarenta e seis

Ando uma pilha de nervos num pote de nervos, ensopado de “supostas” coisas, propostas indiscutíveis e mudanças de vida porque “tem que ser”. Não aprecio o deslizar de calças para baixo a não ser que esse movimento seja acompanhado de outro igual, proporcionado por um ser humano do outro sexo e, para que conste, do natal sempre achei aquela merda que o Inútil escreveu hoje: fuck Christmas, I got the…; em Coimbra, vai para uns anitos, era got the Blues, hoje, algures, não pode ser got qualquer coisa

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

dias quarenta, quarenta e um e quarenta e dois

Algures na terra santa, com conversas sobre especulação financeira –juro!- , livros novos, ainda nem sei bem quantos e algumas medidas profilácticas a propósito também não se descortina muito bem de quê. “Urge pegar no carro” – dizem-me- . Enquanto não me passa a ressaca, enfrento mentalmente estas festas de consumo e divertimento obrigatórios. Fui. 

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

dia trinta e nove: alegria breve?

E foi assim que, depois de um breve passeio, chegado finalmente a casa, ainda atordoado sabe-se lá bem porquê, recebi um estranho telefonema e, pouco depois, abrindo um livro novo lia-se logo na página inicial que era a oito: “Esperou um momento, como se reflectisse sobre alguma coisa, sem dúvida bastante irrelevante, depois premiu o botão da campainha eléctrica e chegou alguém para lhe abrir a porta, a criada ao que tudo indicava. «Sou o novo empregado», disse Joseph, pois era assim que se chamava”. Fechei o livro “O Ajudante” de Robert Walser, e saindo pela porta para o terraço, ou pátio, fiquei especado à espera. 

domingo, 20 de dezembro de 2009

dia trinta e oito: antevisão a despropósito.

E depois de uma comissão de serviço, o mártir descansa o corpo no armário dos fundos. Daí não se vislumbra o presépio, é sabido, mas uma luz ténue desagua na frincha da porta e é sempre possível descortinar os movimentos da casa em silêncio, enquanto os aromas antigos que se destilam da imaginação fazem o seu trabalho: doces, fritos, soleiras, alpendres, fogões a lenha e um quintal, para dizer pouco, assolam cada momento. E depois, a manhã, a tarde, os pequenos ruídos avulso. A casa antiga. 

dia trinta e oito:a caminho da glaciação

Noite e manhã geladas: os montes, ao longe, recortados no céu azul, empoados de construções graníticas que se assemelhavam, pelo menos pareceu-me, a silhuetas fantasmagóricas…

[Ontem, dia trinta e sete, registei: uma rã passa um rio de nenúfar em nenúfar e, repentinamente, talvez a meio da travessia, deixa-se simplesmente ir com a corrente. 

Ps: Foi um dia frio, trespassado à força por uma caminhada, compras para o jantar a correr e um peixe grelhado acompanhado de um tinto maduro que me aqueceu momentaneamente…]

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

dia trinta e seis..............

Enquanto a temperatura descia eu estive quase para ler o jornal, quase para ler um livro e prestes a encetar um projecto digno de registo, a começar na próxima segunda ou no próximo ano, acabando tudo por degenerar numa caminhada ranhosa pela cidade, praticamente sem paragens e com alguns indícios de desorientação geográfica e emocional. Não comprei nada, pelo menos nada que possa confidenciar, e enquanto me agarrava a mais uma liana neura recebi dois telefonemas de uma assentada que me confortaram o espírito e proporcionaram uma rara libertação de serotonina ou o caralho, para logo mergulhar num profundo e exaltado marasmo oficioso. Mas aí já estava na livraria.

[hoje nem uma comissão em part-time:nadinha]

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

dia trinta e cinco

Mas ainda gosto dos dias, ai se gosto, quase todos, mesmo que nunca tenha comissões de serviço em dias seguidos, ou sequer uma comissão de serviço que me ocupe um dia inteiro, mas neste caso, por vezes, é difícil de definir, já que o mesmo dia pode encaminhar dois ou três trabalhos diferentes, com graus de dificuldade absolutamente contrários e, até, tarefas contraditórias, ora viajando pelo lombo mais físico, ora intelectual. Por isso, ou talvez nem tanto por isso, aprecio caminhadas sorrateiras pela terra dos trabalhos dos outros, mais ou menos visíveis e especificados para quem quiser enxergar, assim como um David Attenborough da vida moderna citadina, acho, ou urbana, acho, e ainda assim encontro sempre as mesmas tabuletas nos lugares certos a horas certas. Hoje, prato do dia: entrecosto assado com arroz; filetes de pescada; e um outro que já não recordo. Na terça-feira, lembro-me bem, ali à esquina: tripas à moda do Porto, Cozido à Portuguesa e outro. E o peixe? Vou começar a registar.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

dia trinta e quatro: acho

Simplesmente voltou a chuva para nos empacotar em rodilhas humidificadas até aos ossos. Nada mais fácil: sair de casa e seguir viagem a nenhures, mas sempre com aquele objectivo em mãos, já a insinuar-se, juntamente com aqueloutro que conspira silencioso em todos os finais do ano, e que, dessa forma se aproxima de uma gigantesca sexta-feira que tudo ilude e projecta para a próxima segunda. O ano novo. Sinto-o.

 [ps: dia quase cheio e mais ainda sem oportunidade de jogos, leituras e loucuras por aí além;

ps2: que merdas comprar com pouco menos que dinheiro?, oh já sei, já sei, ser imaginativo..como se alguém...] 


terça-feira, 15 de dezembro de 2009

dia trinta e três: náufrago

Que noite, fiiuu, como se lê nos romances do Dostoiéwski, ou será como se diz?, mas adiante, que noite, que funduras, o corpo a manifestar-se independentemente da minha vontade, e por partes, o cabrão, cada uma delas autónoma e sorrateira, mas estabelecendo combinações, dir-se-ia, de forma aleatória, mas capazes de subjugar qualquer tentativa de não perturbar ninguém num raio de 150 metros. A natureza é fodida. Mais tarde, na baixa mar, dei à costa, entre penedos com saudades de mexilhões, numa praia mesmo assim quase sem areia, e percebi, se percebi, que tudo aquilo que escutamos durante a merda dos dias, por exemplo, na televisão, ou nos livros, e até mesmo naquelas conversas inimputáveis à razão, podem ser usados contra nós nos sonhos ou naquelas planícies de vigília indistinguíveis daqueles. Quando dei à costa, alguns livros de aventuras, e aquela treta do aquecimento geral, perdão, global, da terra, já lá estavam, às minhas custas, mesmo sabendo-se, também ouvi qualquer coisa sobre o assunto, que caminhamos para uma glaciação. Esta noite foi a prova disso.

[ps: coisas podem acontecer durante o dia relativas a novas comissões de serviço]

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

dia trinta e dois

Acordar cedo e gelar enquanto aqueço o chã, voltando logo a seguir para o recinto dos lençóis e cobertores, com o jornal à vista e alguns livros e apenas um braço de fora, o que torna tudo tão impraticável…penso (pensava) como vai ser?, caminho em círculos, em círculos, prestes a morder a cauda, nem sequer é um labirinto antigo, ou um conto do Borges ou do Calvino....Nem sei bem o que escrever enquanto assoo o nariz. Não é uma imagem bonita, isso não.

sábado, 12 de dezembro de 2009

dia trinta: de tarde

Uma tarde quase, quase boa; não fosse o diabo tecê-las, começou-se logo por partir para o monte, um monte pequenino, com coisas antigas e árvores, oliveiras, por exemplo, e pinheiros mansos, outro exemplo, onde a luz se redimia em feixes que pareciam aquelas cenas do laser que se vêem agora nos estádios da bola, onde camadas e camadas finíssimas de luz, acompanhavam esses feixes e, tirando algumas partes queimadas, dir-se-ia que estávamos numa espécie de éden de trazer por casa. Logo aí, nesse ponto nevrálgico, se entremeou a realidade, e deu-se mesmo o caso de se ter que fazer umas compras lá mais para baixo, já estava o sol mais para oeste que outra coisa. Sem mais.
Depois, o devaneio do jornal, com as figurinhas típicas a esquadrinhar a bola enquanto eu tentava ler os classificados e um velhote cuspia para as mãos não fosse o caso de as folhas colarem. Os seus classificados eram outros… 

dia trinta: de manhã

Acordei bem. Ontem é que acordei sem saber em que raio de rua ficava o Canadá. Hoje acordei bem, mas não me recordo de nenhum sonho embora saiba muito bem que me fartei de sonhar e sonhar, e até já estava naquela fase de agarrar o sonho, sabendo perfeitamente que estava a sonhar e deixava-me ir, segundo creio, mas não me recordo de nada e não está por aqui a Mariana, a filha do ferrador no Amor de Perdição para ter pressentimentos e reconhecer presságios. Bem, depois não me restava alternativa, senão levantar a peida, dar de comer aos animais e preparar a limpeza da casota. Meti logo um disco antigo dos Young Gods.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

dia vinte e nove

Passeio nos dias incólume e arrumo uns papéis enquanto desperdiço qualquer coisa que deveria estar a fazer e não o faço. Continuo a arrumar papéis, agora com o sol a esvair-se à minha direita e ainda sinto na boca um docinho a chocolate Nestlé clássico no preciso momento em que escrevo clássico. Recordações e muitos aspectos técnicos assomam dos papéis: desenhos, notas, entradas de um diário, restos de investigações. E uma lista de 2006 que dizia assim:

Numa lista de bolso. Duas listas no bolso.
Compras de mercearia:
Vinho, especiarias, leite, fiambre, água, cerveja, amêijoas, carne de porco, coentros
Compras de livros:
Blade Runner - Philip K. Dick, As Cidades Invisíveis - Italo Calvino
 
E mais à frente leio que, por essa altura, as leituras rondavam Blase Cendrars e Stevenson, e embora não consiga localizar o mês exacto, convém salientar que o ano, todo esse ano, foi de trabalho intenso no geral e no particular sem direito a fins de semana e tudo. 2006. Não confundir com 2666 do Bolaño. 

 [ps: hoje não me parece sexta-feira, talvez porque têm sido muitas, ou talvez porque hoje não fiz planos para a próxima semana]

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

dia vinte e oito: parte da tarde

O sol insinuava-se em estranhas geometrias entre as casas, e mais além, no monte, acabando por tudo agasalhar numa luz amarelecida que, ainda assim, terá durado tempo mais que suficiente para nos regozijarmos com discrição. Não foi isso que notei quando caminhava, vindo de mais um part-time consolador. Sempre os mesmos rostos apressados, aparentemente diligentes aquando de uma paragem com alguém conhecido, ou na frente de uma montra com motivos natalícios. Evitei, na volta, o centro comercial, mesmo necessitando de umas coisas nada importantes, e continuei acompanhado, a pé, ou nos transportes, pelos mesmos rostos velados numa alegria de fancaria, sempre ocupadíssimos, esses corpos que carregam o rosto, ora em conversas climatológicas, ora expondo o seu telemóvel, ora observando as montras e as luzinhas que se adivinhavam no crepúsculo próximo…  

dia vinte e oito

Abro a janela: sol. Leio qualquer coisa.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

dia vinte e sete: tentar recordar

Ontem, dia vinte e seis, depois de um certo work part-time, e um repasto idílico, seguiu-se-lhe uma instigação alcoólica que me levou a pensar que [ontem] por estes dias ainda consigo velar pela minha saúde em dias de final de festa quando todos os outros se remetem ao silêncio mais soturno, à raiva pendurada na insónia de quem galgou três ou quatro dias de mini-férias. Odeio minis; sejam elas cerveja ou férias, ou ainda carros, ou pedaços de carne. Comprovei e atesto que, como outrora apreciava as saídas às quintas e domingos, por estes dias de paisagem monótona, quase só saio quando mais ninguém o faz e, aparentemente sozinho, até chegar ao local. Cada vez mais, caminho para a solitude de uma viagem a Issenheim para ver as pinturas de Grünewald.

[ps: hoje, acordei e levantei-me da cama e banho e pequeno almoço e escrevi as linhas acima]

domingo, 6 de dezembro de 2009

dia vinte e quatro...

Passei o resto do dia a tentar recordar os restantes 75% do sonho.

[Ps:ainda trabalhei qualquer coisa em part-time…e agora Cat Power]

dia vinte e quatro: 25% de um sonho

Hoje tive um sonho em que encontro um amigo meu num bar, um amigo que já não via há muito tempo, estávamos sentados lado a lado e eu não o reconheci logo. Depois bebermos e conversamos. Mais tarde, chegado ao (mesmo?) bar, por caminhos insondáveis que só me fazem evocar o Metropólis do Fritz Lang, e cenas do Giger, esperava-me um sujeito também ele conhecido, acho eu, que de repente se me dirige e diz “estava mesmo à tua espera, vamos lá mudar o tubo”. Esta cena tem mesmo cenário concreto na minha vida irreal, e eu respondi, meio surpreso, que por dez euros ainda podia ser, já a contar com o material, mas ele avançou 25 euros, ou nada feito, e estava-se mesmo a ver que não esperava uma nega, mas eu lá disse que 25 euros, dada a conjuntura actual seria muita massa, mas “amigos na mesma”, e o gajo já de costas, de costas, disse “amigos o caralho”. Nesta altura o cenário era indescritível. 

sábado, 5 de dezembro de 2009

dia vinte três...

Escurece…já escureceu. Nada de relevante a assinalar, a não ser talvez um telefonema onde me fartei de não ouvir, ou fazer que não ouvia, é muito fácil hoje em dia; vais no carro?, não tens rede?, estou-te a perder…não te ouço, não, estou em casa, sim estou em casa, não percebo como é que alguém poderá controlar alguém com as alegadas novas tecnologias, é a mesma coisa que esperar que o pombo fale. De qualquer forma pode-se sempre ter 2 telemóveis, vários cartões, tirar cursos de ventríloquo ou, na dúvida, trocar de telemóvel quando cheira a esturro, como aqueles senhores de fato e gravata na televisão.
De resto, leituras. 

dia vinte e três

Acordar: 9h45m;
Levantar (ir buscar pão): 10h15m;
Se não fosse um desses sábados tresmalhados este teria sido record pessoal nacional do ano.

[ps: ainda chuva; Tchaikovsky avulso na rádio]

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

dia vinte e dois...

“It’s the butterfly man, you now. He comes round here quite often”, havia lido. Essas futuras ruínas: frases proferidas no alpendre de um hospício, onde alguém jornadeava, segundo creio, para o esquecimento e a aniquilação da memória, a passos rápidos, e eu entrelaçando o livro de Sebald com outros livros e as minhas próprias recordações, quando ao observar um dos bonecos de peluche com quem partilho a biblioteca, decidi-me por sair, a ares, desculpando-me, logo aí, pelo adiar de uma lida académica, e de uma outra entretanto esquecida…

dia vinte e dois: everyday is like friday

Acordar, levantar: já está. Às vezes fico com a sensação, principalmente às sextas, mas não só, de que todos os dias são sextas-feiras, onde após um breve período de descanso, qualquer coisa irá acontecer lá para …segunda e assim sucessivamente, nada que o Morrisey não tivesse já pensado, com chuva e tudo, mas no que toca a domingos: everyday is like sunday…

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

dia vinte e um

Até agora, mesmo depois duma revoada de pensamentos enquanto caminhava, nada assoma de autêntico e compreensível. É certo que a emoção palpitou a espaços, nada aclarada mas sujeita à angústia da música que corria nos auscultadores, com reminiscências a vigiar cada pedaço de terreno calcorreado, e livros, e árvores a assaltar cada um desses momentos, culminando numa poça, num charco de ausências, onde já não se materializa nenhuma estória, nem ao adormecer.
[ps:algum trabalho em part-time, Camilo Castelo Branco e algum whisky – a decorrer]

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

dia vinte: uma lista full

Cito de cor a lista de trabalhos e serviços prestados nos últimos anos em part e full time:
Explicador; balconista; centro comercial: diversos; investigador; executante de trabalhos académicos para outrem; distribuidor de publicidade; estudante pós graduado; barman; vendedor; dinamizador de eventos; técnico inferior e superior; letrista sem banda; empreendedor de ideias. Registe-se, apenas para que conste, que vários trabalhos me foram recusados, ou ignominiosamente não correspondidos, por razões totalmente alheias à minha pessoa; decisões baseada, segundo creio, em preconceitos, em mal entendidos, ideias preconcebidas e a mais pura ignorância. Ainda recentemente desejei, de forma inflamada, ser distribuidor de gás ao domicílio. Mal interpretado, ainda concedi, ressalvando a necessidade de um trabalho, primeiro, e depois de algo físico, algo sem vertente aplanada intelectualmente. E em full time.

[ps: algumas leituras - os técnicos Ascher/Choay e Sebald]

dia vinte

Ontem dia dezanove: foi daqueles que nos remetem para a integridade de um empregado em part-time. Hoje acordei desempregado em part-time. 

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

dia dezoito... ...

Caminhei rafeiro e brejeiro, quilómetros atrás de quilómetros, por um acaso deixaram-me cheirar a biblioteca e o snack, e por um outro acaso, se entrasse num centro comercial, assim rafeiro e brejeiro, mas vestido com um ar de usa e abusa graça, deixava-me entrar, e eu pensaria ainda sou um consumidor, ainda pareço um consumidor, e não sei se notam os que ficam à porta, cidadãos mesmo não sendo rafeiros (do tipo canino) nem brejeiros, ficam à porta, não são consumidores, nem sequer sabem farejar uma portinhola lateral, ou uma conduta de gás, nem sequer servem para serem perseguidos. E ninguém lhes ladra. Ladro eu, caralho. Eu e o Samsa, que agora lhe dá para isso...

[duas médias e uma mini]

dia dezoito...

E um banho quente às 14h37m?

Dia dezoito: começar a estudar as marés

É bom dia é. É acordar com aquela imagem do filme Papillon, uma espécie de Cinderrella Man, que passou ontem na SIC (único termo de comparação disponível a estas horas) mas mais Man que Cinderella; sim, aquela imagem quase quase final em que o Steve McQueen, já dentro do bote improvisado e, depois de anos a estudar as marés, consegue finalmente fugir da Guiana Francesa e chuta: I'm still here you bastards

Dia dezassete: final de domingo afinal já segunda

Não estou a ficar farto de domingos. 
E quase logo, não me dirigindo para este solilóquio, sem estar à espreita, encontrei o Mário Cesariny com um cigarro na boca, ou na mão, acho que já estaria com ele na mão quando comecei a escrever não estou a ficar farto de domingos…e comecei no e quase logo.

sábado, 28 de novembro de 2009

dia dezasseis: noite e faz de conta que não estou em casa

Assistir à bola na TV, estádio cheio, e o patrão da bola do café mais uma assistente a assistir a bola, o cofre a vibrar e eles a vibrar com o cofre e a bola a assistir o cofre, e eu, e eu, e eu, eu... quase a solicitar a minha presença por alguns euros, quer dizer, uns euritos, tipo explicações à vizinha, para ajudar. Sou especialista em ajudar.

[ps: algumas cervejas]

dia quinze...ups: dia dezasseis

Despertar: 10h54m; record distrital do ano.
Levantar: quase imediatamente 11h02m; record regional do mês.
Pequeno-almoço: aquele do livro do Kurt Vonnegut. E dar de comer aos animais.
Limpeza da casota e arremesso de diatribes contra um portão novo. 

Ps: ansiedade e enjoos matinais substituídos por um silêncio que rufa…
Nenhuma leitura, a não ser o jornal desportivo on-line, a assinalar  

[Ps2: espionar a vizinha]

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Dia quinze: muito mais tarde

Final da tarde e um rumor inopinado acastela-se na soleira da porta. Outro cão ladra. Depois de uma vista de olhos pelos jornais descobre-se uma panóplia de iniciativas, redes e expedientes, nacionais e “internacionais”, sobre emprego e mobilidade e novos horizontes, pensados para nos por a pensar sobre o assunto, à laia de outros que promoviam técnicas de emprego, ou apoio ao emprego, já não me recordo, mas sei que vinham acoplados a outros técnicas de arranjar emprego se se conhecer alguém que tenha alguma capacidade de decisão sobre o emprego em causa. Tenho amigos assim.

Ps: já não me dói o estômago, talvez por estar a deitar abaixo uma vodka daquela garrafa que está ali e me foi oferecida por um desses amigos que conhecem alguém com capacidade de decisão sobre um tal emprego. Eu não preciso disso. Eu tenho capacidade(s)…e talento…escondido.

[já cheira]

dia quinze: acordar

Ainda há pouco acordei e já estava, já estava para ficar deitado na cama a olhar a chuva pela janela, esperando a gamela com um livro, como será possível?, do Shakespeare, note-se, do Shakespeare, logo pela manhã, e logo numa sexta-feira, aquele dia em que se começa a projectar mudanças, em que corpo e cabeça se enlevam de ideia e projectos a começar na …próxima semana.
Mudanças súbitas de humor. Dores de estômago. Terá sido da Laranja Mecânica?

[Ps: ontem não atendi uma chamada com número privado. Seria mais uma entrevista?:
Açougue? Porteiro? Diferenciados?....]

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Dia catorze: delírios

É emblemático, a cada hora que passa, não passa nada, e os que passam, sim, os que passam, nem sempre têm gente lá dentro, apesar da ventura de tudo isto que é passar e ser visto; quanto muito é passar e ser visto, note-se, porque afinal, ser visto enquanto se passa…é melhor que não ser visto, mesmo quando se passa. Eis a interrogação de alguém que quando passa – bem sei – é visto.

E quem fica com a custódia dos dias?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

dia treze

O meu coração bate, bate e bate com(o) “a chicken with its head cut off”, e depois, já sem nada para bater, debate-se freneticamente no teclado do computador e liga-se, por assim dizer, a uma data de coisas sem destino nenhum, preenchendo enganosamente volumetrias, assim mesmo, de tempo, que não são brincadeira, numa transumância que só pode desaguar em adjectivo.
 De manhã leu-se.
A cabeça (agora) recorda 27 Fevereiro de 2007:
Sonhei com Itália. A princípio não o soube, mas era Milão, era, recordo uma ponte (que ao que tudo indica (re)conhecia), única, e uma estação de comboios difusa [?] e desconexa da realidade, na tentativa de lá chegar. Depois sonhei com nomes de outras cidades, Génova, Turim, Roma. Segundo creio fui a Roma (mas havia mar), andei por subterrâneos, através de perseguições, e em viadutos e pontes, trabalhei em hotéis, onde após exercícios físicos intermináveis já não tinha tempo para me alimentar convenientemente (…)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

dia doze: wrong place, right time

Alhures necessitam-se de comerciais – vários – para vários departamentos, e mais abaixo, não sei se da página, oferecem-se alvíssaras a quem encontrar um cão, mas especificamente determinado cão. A esperança esvai-se pela seteira que ainda agora (quer dizer já foi há um bocado) estava a imaginar especificamente para determinado castelo. Outro cão ladra (agora mesmo, foi agora mesmo).
Ps: ouço música.
Ps2: ainda ouço música. 
Ps3:…………….

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

dia dez e onze (ontem foi domingo)

Nada (ontem) a assinalar até que chegado a hoje pouco há para acrescentar. Sopra um vento de preguiça junto ao cais onde aportamos, nós, quer dizer eu, não sei se ficou mais alguém, mas não deve augurar coisa boa, e não se pressagiam entretanto mudanças significativas, a não ser a formação de bolsas virtuais de emprego que é o mesmo que virtuais bolsas de desemprego, ou ainda, bolsas no âmbito do programa virtual de mobilidade do second life, já não sendo pouco. 
Ps: algumas leituras à jorna. Preparação para emoções não tarda nada galopantes. Homem a dias oferece-se para volúpia de sebosas entrevadas. Vi os preços das consolas. Entrevi(a) o preçário dos discos. Fui à livraria perfumar o local. [estas e outras notas avulsas constam do meu caderno recente]

sábado, 21 de novembro de 2009

dia nove

Chuva e planificação das compras de natal. Plafond irrisório para além de inexistente, mesmo tendo em conta as tentativas de embelezamento recorrendo a várias figuras de estilo mental. Chuva e leitura sobre leituras interessantes, eu diria até benévolas, que me carregaram por momentos que duraram toda uma tarde… 

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

dia oito

Hoje não tenho (ainda) planos. Mas enquanto não enlouqueço completamente e enquanto não começo a projectar uma nova vida a começar obviamente na próxima semana; enquanto isso, acho que tenho a certeza que vou ler os jornais, classificados e tudo, e depois…música, banda sonora para a consola…

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

dia sete

Hoje sonhei. Mas já não me lembro. Por vezes penso que desperdiço os dias e começo a escrever com frases curtas. Mas logo a seguir vou optimisticamente por aí fora, sem resguardo, envergando a tíbia condição de carregar dois ou três part-times, sem contar com o de desempregado e, dessa forma, tentando enredar o destino na sua própria teia, sem dúvida, lá vou ganhando uns segundos e passando o tempo…

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

dia seis

Acordei, liguei a TV e vi uns gajos vestidos à Portugal, mas com toilete made in china, com ar de estarem para ali muito divertidos no tubo de ensaio; desacordei e voltei a sonhar...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

dia cinco: noite

continua a saga: assistentes técnicos, técnicos assistentes, delegados comerciais, comerciais, técnicos de vendas, técnicos de seguros, distribuidores de publicidade, gerentes de loja, sub gerentes, acompanhantes; full-time, part-time; com viatura, sem viatura; 1000 euros base, 900 euros base, mais a mais comissões, telemóvel, garagem, T2, sauna, turco, televisão…futebol ao fim do dia.

dia cinco: final da luz da tarde

Enquanto não chega a hora de dar um tiro nos cornos vou observando o pôr-do-sol e alguns vídeos porno. Hoje, quer dizer à bocado, ou terá sido Ontem?, não sei bem os dias são sempre iguais e unicamente agradáveis por que não têm principio meio e fim, são qualquer coisa de intermédio, pilar da ponte de tédio, e de qualquer maneira já me esqueci o que ia dizer…

dia cinco

Que horas são? Três vezes o despertador tocou naquela versão simpática do diga bom dia com Mokambo. Eu disse logo ali bom dia…e adormeci.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

dia quatro: anúncio

Esta apanhei no JN e até já me havia esquecido, os gajos pediam um: técnico de salários. Foda-se, quem é que não quer ser técnico de salários?, ou, quem não quer ter um salário?, ou até ser assistente técnico do técnico de salários? Concorri logo. A ver se me respondem

dia quatro

Esta noite nem dez horas dormi, nem dez, que merda assim não vai ser fácil cumprir o estipulado e regras são regras, quanto menos tempo para pensar melhor, e os dias são longos, embora muito boa gente pense que é uma merda fácil. Ler, e ler, comer, beber, TVer e consolar, sacar e jardinar, caminhar e sonhar a olhar para o palácio. E eu ainda arranjo umas merdas avulso para fazer, técnicas, já que eu sou técnico em várias áreas, investigador, e farejador de não deitar fora, mas ontem à noite o que eu fiz foi bebericar umas coisas e ver um filme na Rtp1 com o café Denzel e o Bruce Willis que desta vez despacha também uma data de gajos mas com a ajuda de um exército, o cobardolas. De resto o filme carrega um camião de lugares comuns e uma gaja da CIA sempre com a lágrima no canto do olho e bem capaz de ser enganada por um puto de 6 meses; ah, e antes disso, do filme, ainda pensei em ver o Sepúlveda na dois, mas aquela gaja do programa com o nome de uma obra do Roland Barthes e o próprio Sepúlveda metem-me algum nojo, embora a gaja até seja carnalmente apetecível. Mas não deu, só isso. 

domingo, 15 de novembro de 2009

dia três..

Eu na minha de-pre-ssão e com problemas, para que se saiba, e um gajo sei lá bem de onde veio, cravou-me uns cêntimos por causa de um cartão Multibanco fodido, riscado como um cão e eu que o grame. Mas houve jantar. Nada mais a assinalar. 

dia três

Hoje apenas dormi onze horas, ou quase, ainda não é meio-dia e já estou aqui cheio de ideias e planos para a próxima semana. É sempre assim. Começa algures temporalmente na tarde de sexta-feira e prolonga-se pelo fim-de-semana até saber quais são os filmes de domingo à noite, e como normalmente são uma merda, revolto-me e vou beber um copo curtinho. E depois é segunda-feira. Neste momento ainda não abri mais do que três páginas na net e já me apetece vomitar com as chafurdices domingueiras.

sábado, 14 de novembro de 2009

dia dois: mais tarde

Por acaso o dia tem sido muito interessante do ponto de vista de quem sai de si e se vê ao longe, tão longe que confunde quem observa, e tão longe que se cair no abismo ninguém nota, muito menos o observado. De qualquer maneira, uma passeata é sempre uma passeata e ao sábado a felicidade mistura-se com a putativa vontade de diversão, e mesmo os gajos que só trabalham de quando em vez são comidos por esse espírito de merda e que só acarreta adiantes. Assomam às conversas projectos e um tipo planeia um rol de novidades, mas só a partir de segunda-feira – o cão. Vistas as coisas, ainda não li o jornal, não toquei na consola, não caguei no jardim junto a uma árvore, ainda não li os classificados, mas acompanhei as notícias em 3 canais ao mesmo tempo e retive qualquer coisa oculta, reparei numa merda de série de vampiros na programação do dia, e parece que Portugal joga com a Bósnia e os nossos militares fazem exercício em tão importante dia lá na Bósnia, enquanto um oficial qualquer anuncia que logo vai haver festarola. É em todo lugar a mesma merda de sábado à noite.

dia dois

Ao sábado a perspectiva levantar da cama é assombrada pela visita alcoólica do dia anterior, dizeis-me, o que, vindo de gajos, segundo creio, pouco escandinavos tem o seu quê de luzerna na minha pesada cabeça. Mas não, não, não e não, quase todos os dias noites, isto é, vésperas de dia seguinte, ou um seu sucedâneo, normalmente ocorre um encontro já não sei se é com o Jekyll ou Mr. Hyde qualquer coisa álcool, assim como assim todos os santos dias se lêem os jornais e se consulta a Internet na demanda infrutífera e sobejamente canina de um trabalho. Não é que não tenha trabalhos, assim como não é que eu não tenha mais nada de importante para fazer do que beber, mas é que, é que, ler, foder, comer, levantar da cama e ter montes de tempo e perspectivas de montes de tempo ao longo de um espaço temporal alongado é um bocado fodido, a não ser que um gajo seja um desses mandriões genéticos ou sei lá, um escritor, mas esses têm acho eu um método, disciplina, e alguns agora até consideram a coisa um trabalho, por isso vou até pesquisar sobre alguns que consideram escrever como um trabalho, enquanto não chega a hora de beber um copo, ou de ler o jornal, ou de morder os classificados. 

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

dia um

Experiência. Por acaso nunca tive um diário, muito menos um querido diário, muito menos sequer a enfezada ideia de ter um diário, e assim sucessivamente até ter um diário, depois de ter lido alguns diários, do Kafka por exemplo, fica sempre bem ler aquela merda de diário, ou do Gide por exemplo, fica sempre muito bem ler essa merda, até que um belo dia se tem um diário e descobre-se que muitos gajos e gajas têm a mesma merda de ideia e até há escritores daqueles que parece que escrevem livros, que escrevem livros com títulos como Diário de Bridget Jones, que resultam em filmes de domingo à tarde, perto de umas sandes, cola ou cerveja no aconchego da ressaca. Por exemplo. Mas antes de tudo é preciso um gajo levantar-se da cama. Apenas as meninas escrevem diários deitadas na cama, mas isso acontece normalmente à noitinha, e ninguém sabe bem porquê, mas as meninas ajoelham-se primeiro e depois escrevem deitadas na cama enquanto falam consigo próprias, um quadro nojento.  
Experiência. Já fora da cama, sem jornal, sem livro, televisão, mas quase de robe-de-chambre, a uma sexta feira 13, começa este diário. Foi uma sorte ter-me levando.